quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Um sinal, sem sair do amarelo

Conforme as condições climáticas, se pega uma onda de propagação sonora boa e a conseqüente sintonia da Rádio Globo AM – Rio. Quando não, é um festival de chiado e ruído que não há ouvido nem silêncio de alta noite que agüente e, faz com que no escuro da noite o dedo acione o dial em busca de algo audível antes do sono chegar, ou mesmo aquele estado de quase letargia que também já é sono. Assim, tateando encontrei a sintonia da Rádio Itatiaia AM de Belo Horizonte com uma clareza própria do acaso, bem como a descoberta do programa Itatiaia Dona da noite, de 00,00h horas até 04:00h, tendo a recepção de boas vindas com Elis cantando Cartomante. Fui fisgado e ali aportei desde então o incansável dial.

Cartomante de Ivan Lins e Victor Martins faz parte do disco de Elis de 1977, em que ela aparece sentada em uma cadeira de balanço com um olhar pensativo e distante numa fotografia colorida envolta por uma moldura preta. É o mesmo disco que trouxe Romaria, Caxangá e Transversal do Tempo, música de João Bosco e Aldir Blanc, que foi a lembrança primeira enquanto ouvia Cartomante na Itatiaia, e me fez reviver um show seu, do mesmo nome em Salvador nos idos de 78, no Teatro do Iceia. Claro que estava lá. Transversal do tempo, o show, tinha a direção musical de Aldir Blanc e Mauricio Tapajós o que já indicava a politização do repertório e de seu conteúdo, onde os amigos e companheiros eram saudados e os desafetos ridicularizados, a exemplo de Caetano que teve a sua nova composição Gente, interpretada por Elis com trejeitos efeminados, enquanto ao fundo uma placa exibia o letreiro, Beba Gente. Era uma alusão a Coca-Cola e a possível alienação do baiano. Mas, isto é outra história.

Em um cenário que lembrava vários andaimes de uma construção era o aparato cênico preciso para que Elis interpretasse Construção, Deus lhe pague, Saudosa maloca, e em especial, Cartomante, onde ela cantava “caí o rei de ouro/caí o rei de paus/caí o rei de espadas/caí não fica nada” que era uma associação forte àquela época, embora já se respirasse os ventos favoráveis da abertura política. O espanto ainda veria com Elis cantando Romaria com o rosto coberto por um véu, como se fosse Nossa Senhora, numa simbologia de poder que também teria que ser contestado, do que jeito que Aldir e Maurício queriam. Algo prá não se esquecer como tudo que Elis fez, apenas lamentar que o espetáculo tendo sido composto por mais de 20 canções tenha resultado em um disco ao vivo com apenas 09.

Felizmente, ter o prazer de voltar a ouvir Cartomante pela Itatiaia trouxe a exultante noticia de que o jornalista Rodrigo Faour conseguiu na gravadora Universal, naquela época Phillips, a fita com a íntegra do show e lançará ainda este ano, Transversal do tempo, em CD, do jeito que rodou os palcos do país. Elis vive 

Foto: Elis em Transversal do Tempo

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