sábado, 1 de setembro de 2012

A gente precisa ver o luar!



Em Morro do Chapéu, procedente da cidade alegre, fui saudado com um entardecer que só as planícies, os descampados são capazes de compor cenário assim, em que uma gigante lua amarela sobre um céu de chumbo brilham para o êxtase de uma plateia atenta, ainda que em movimento, das janelas do ônibus da Águia Branca. Merecia aplauso se ainda pudéssemos dispensar à natureza mais esta silenciosa contemplação. Bravo! Lembro do quadro O Grito, de um pintor norueguês do século 19, recentemente adquirido em um leilão por 120 milhões de dólares, que toda expressividade demonstrada naqueles traços e sinuosidades são percebidas até por um leigo e que os críticos de artes plásticas vêm um mundo de intenções que não alcançamos. Melhor assim, já que a nos pobres mortais, resta o luar.

No inicio dos 80, Gil lançou mais um disco e mais um sucesso que era a canção Luar, em que prá começo de conversa afirmava que “Do luar já não há mais nada a dizer/A não ser que a gente precisa ver o luar”. O mesmo Gil que no começo de carreira, lá pelos anos 60 convocava através de Lunik IX os “poetas, seresteiros, namorados correi/É chegada a hora de escrever e cantar/Talvez as derradeiras noites de luar”. A apreensão e o desencanto do poeta vinham da recente conquista da lua pelo homem, o que aos seus olhos significaria a sua destruição ou banalização do satélite da terra. Qual o que! A Lua continua soberana e nova como diz o poeta Renato Rocha, na canção A lua em que pelas vozes do MPB4 crê que “mente quem diz/que a lua é velha”.

Não há um poeta ou um compositor popular que não tenha cantado a lua em seus versos, suas estrofes. E mesmo que não se cante mais a lua, mesmo que a prisão dos apartamentos das grandes cidades impeça esta visão contemplativa, ela impassível e indiferente vai conduzindo o seu espetáculo certa de que sempre terá uma plateia sonhadora e delirante diante de tanta beleza. “Não há ó gente oh/ não luar como este do sertão”

2 comentários:

  1. BELO TEXTO. TÃO BONITO QUANTO A LUA CHEIA QUE EMOLDURA O CÉU DESTA NOITE. PARABÉNS, VELHO BAZO.

    ResponderExcluir
  2. Caro amigo e fiel leitor destas obobrinhas, obrigado pela dispensa de seu tempo a estas trivialidades
    Abraços,

    ResponderExcluir