segunda-feira, 18 de março de 2013

A Mulher de Roxo

Ela foi o primeiro tipo extravagante e pouco convencional na cidade que eu começava a conhecer. Por força de uma bolsa de estudo para um pré-vestibular, o Curso Radar, na Ladeira da Praça, conquistada através de um concurso patrocinado por jornal que não mais existe, sempre estava passando próximo à Rua Chile o seu único e preferido reduto. Mais precisamente nas portas da Loja Sloper, que também deixou de existir como tanta coisa na cidade, a Mulher de Roxo vivia a murmurar palavras inteligíveis, exceto quando pedia dinheiro. Aí a sua voz era clara a sua presença ainda mais misteriosa, pela indumentária, um roupa de freira e, um vistoso crucifixo a lhe conferir uma solenidade religiosa que talvez nem existisse.

Sobre a personagem foi um criada um rosário de história sem uma confirmação precisa de sua veracidade. Dizia-se que uma desilusão amorosa tenha levado a Mulher de Roxo àquele estado de “louca mansa” e enclausurada naquela vestimenta religiosa como que afastada do mundo ingrato que lhe carregou o amor. De sua família pouco se soube e do abrigo em que vivia nada ou ninguém sabia contar de sua misteriosa figura. O certo é que por muito tempo a Mulher de Roxo era para a Rua Chile uma espécie de componente de sua paisagem cosmopolita onde moças e rapazes das classes abastadas vinham desfilar seus carros e suas roupas da moda, alem de subir e descer as escadas rolantes da Loja Sloper as primeiras da cidade. A Mulher de Roxo morreu, desapareceu ou virou purpurina em 1997. 
 
Foto: A Mulher de Roxo

Nenhum comentário:

Postar um comentário