Ela foi o primeiro tipo extravagante e pouco
convencional na cidade que eu começava a conhecer. Por força de uma bolsa de
estudo para um pré-vestibular, o Curso Radar, na Ladeira da Praça, conquistada através de um concurso patrocinado
por jornal que não mais existe, sempre estava passando próximo à Rua Chile o seu único e preferido
reduto. Mais precisamente nas portas da Loja
Sloper, que também deixou de existir como tanta coisa na cidade, a Mulher de Roxo vivia a murmurar
palavras inteligíveis, exceto quando pedia dinheiro. Aí a sua voz era clara a
sua presença ainda mais misteriosa, pela indumentária, um roupa de freira e, um
vistoso crucifixo a lhe conferir uma solenidade religiosa que talvez nem
existisse.
Sobre a personagem foi um criada um rosário de
história sem uma confirmação precisa de sua veracidade. Dizia-se que uma
desilusão amorosa tenha levado a Mulher
de Roxo àquele estado de “louca mansa” e enclausurada naquela vestimenta religiosa
como que afastada do mundo ingrato que lhe carregou o amor. De sua família
pouco se soube e do abrigo em que vivia nada ou ninguém sabia contar de sua
misteriosa figura. O certo é que por muito tempo a Mulher de Roxo era para a Rua
Chile uma espécie de componente de sua paisagem cosmopolita onde moças e
rapazes das classes abastadas vinham desfilar seus carros e suas
roupas da moda, alem de subir e descer as escadas rolantes da Loja Sloper as primeiras da cidade. A Mulher de Roxo morreu, desapareceu ou virou purpurina em 1997.
Foto: A Mulher de Roxo
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