A Comissão
Nacional da Verdade vai lentamente levantando a negro véu da impunidade a
cobrir os carrascos da ditadura militar, esclarecendo seus crimes, dando a
versão definitiva das mentiras que jogaram na cara da sociedade civil, com a arrogância
costumeira, ainda nos dias de hoje. A caserna continua gritando, mas a caravana
vai passando, revirando e revendo páginas da nossa história cujos fatos nunca
foram aceitos como verdade, que a Comissão
agora busca esclarecer onde ela se esconde, ou onde esconderam.
Um destes fatos foi o novo atestado de óbito do
jornalista Wladimir Herzog dado como
suicida nas dependências do II Exército, em São Paulo, após interrogatório no DOI- Codi, entregue a família em substituição ao fornecido por
aquelas autoridades como suicídio por asfixia mecânica. À época, quem sabia dos
métodos da ditadura e mais ainda, quem conhecia o jornalista da TV Cultura de São Paulo, que convidado
a depor se apresentou prontamente, sabia que ele jamais seria capaz de gesto tão
radical. Após 48 horas de ter se apresentado para depor, Wlado, como era conhecido por seus
amigos, foi dado como morto em uma cela das dependências do aparelho repressor.
Ninguém engoliu a farsa, que se revelou mais patética com a divulgação de uma
fotografia em que o corpo do jornalista aparece preso por tiras de pano em
grades da cela onde montaram o teatro macabro.
Agora, a família do jornalista tem o seu verdadeiro
atestado de óbito, cujo documento explicita a causa de sua morte como
decorrente de "lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nas
dependências do segundo Exército - DOI-Codi", conforme o Tribunal de Justiça de São Paulo. Assim,
o estado assume a responsabilidade pela morte de Wladimir Herzog, como por certo terá que assumir tantas outras que a Comissão saberá levantar e provar a mentira dos inimigos da
democracia, da justiça e da verdade.
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