Muitos foram os jornalistas, professores universitários,
escritores, intelectuais perseguidos pela ditadura militar e impedidos de exercer
a sua atividade, ou por estarem presos ou por serem afastados de suas funções sem
qualquer explicação ou fundamentação pública para o ato arbitrário.
Restabelecido o Estado de Direito
muitos foram os que bateram à porta deste mesmo Estado para reivindicar uma
indenização pela perda sofrida, em decorrência do cerceamento de sua liberdade
no exercício de sua profissão. As controvérsias não tardaram a surgir em torno
da decisão do Presidente Fernando
Henrique Cardoso que regulamentou através de decreto esta indenização, ele
mesmo um beneficiário.
Pessoas conhecidas de todos nós se beneficiaram do
decreto e partiram para a reivindicação dos direitos usurpados, gerando
críticas mesmo daqueles que poderiam ter entrado no rol dos beneficiados, mas
preferiram a condenação ao recebimento das polpudas verbas indenizatórias.
Em recente entrevista na Revista da Cultura, o sempre brilhante e lúcido Carlos Heitor Cony fala da sua condição
de indenizado, defendendo como justa este reconhecimento do estado ao
impedimento, mesmo que temporário, de sua atividade jornalística. Ao contrário
de Cony, o também eternamente brilhante,
Millôr Fernandes, nunca poupou críticas
aos que caíram de boca nas tetas do estado pegando a sua parte indenizada,
afirmando “que não sabia que lutar contra ditadura era uma forma de
investimento financeiro”. Muitos como Millôr,
outros tantos como Cony se
beneficiaram ou recusaram este investimento financeiro que tantos
constrangimentos e polêmicas ainda hoje repercutem.
Ser contra um regime de
exceção é muito mais um gesto de coragem, de crença em seus princípios democráticos
que propriamente uma aplicação financeira; coragem e crença que talvez tenha
faltado ao Millôr por ter sido o
único membro do Pasquim a não ser
preso em 1970, como foram todos os seus colegas de redação ou colaboradores.
Desenho: Millôr p/Cássio Loredano
Desenho: Millôr p/Cássio Loredano
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