Ainda é comum a identificação do intérprete
como autor da obra que canta ou executa. Este é um antigo costume oriundo das
emissoras de rádio em omitir o nome dos autores de uma música, ficando com o
cantor ou cantora a associação àquela canção como se fosse uma criação dele ou
dela. A minha condição radiofônica passou a mudar quando já estudante em Salvador e ouvinte cativo da Rádio Educadora AM e tempos depois em FM, uma das poucas a registrar o nome dos
autores da canção que acabávamos de ouvir. Esta emissora foi responsável pelo
meu enriquecimento musical, em especial um programa noturno comandado pelo Professor Cid Teixeira em que a música
brasileira e seus criadores eram elevados a condição de poetas e mestres,
dividindo com o interprete os louros da canção e não somente àquele como se via
até então. Assim, Geraldo Pereira, Cartola,
Guilherme de Brito, Newton Mendonça, Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli,
Victor Martins, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro e tantos mais foram aos
poucos sendo reconhecidos como parte do sucesso de determinado intérprete.
A ampliação desta cultura musical com base
radiofônica também se deu graças a um uma espécie de palestras semanais
realizadas no Instituto Cultural Brasil
Alemanha – ICBA, no final da década de 60, pelo Professor e poeta Carlos Coqueijo Costa, com a participação
do colunista social e pianista Sílvio Lamenha,
enfocando a época de ouro do nosso rádio até a bossa nova e a figura emblemática
de João Gilberto. Ali, a cada noite ouvíamos
pequenas histórias e grandes sucessos de divas da canção brasileira como Dalva de Oliveira, Elizete Cardoso,
Isaurinha Garcia, Ângela Maria, Emilinha Borba, Marlene, as irmãs Batista, Linda e Dircinha, Nora Ney e
mais, muito mais. Estes
acontecimentos culturais foram decisivos na minha formação musical como ouvinte,
curioso, leitor de biografias e, modestamente, pesquisador.
Foto: Dalva de Oliveira
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