quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Tempo, tempo, tempo, tempo

Assim como o MPB-4 que foi se desfigurando com o passar do tempo, desde a saída de Ruy e a morte de Magro, agora é o Quarteto em Cy com quem o grupo de Niterói mantinha não apenas identificações musicais, mas também afetivas, que desde a saída de Cylene, agora perde Cybele mais uma das irmãs de Ibirataia – Bahia. O Quarteto em Cy esteve presente nos mais importantes momentos da música brasileira, e este ano completou 50 anos de atividades desde a sua chegada ao Rio e apadrinhadas que foram por Vinicius de Moraes em carreira sempre ascendente.

Com o MPB-4 gravaram participações recíprocas em discos individuais e coletivos, como o Cobra de vidro que além de disco virou espetáculo musical que assisti emocionado no Teatro Castro Alves, em 1978, a versão “a capella” de Because (Lennon e McCartney), a politizada canção de Violeta Parra, Me gustan lós estudientes e músicas de Chico, Milton Gil, Dori Caymmi e Heitor Vila-Lobos numa demonstração da qualidade do repertório que sempre foi marca dos dois grupos.

Cybele que nos deixou há uma semana, e num dos momentos em que se afastou do Quarteto para formar dupla com Cynara foi involuntariamente protagonista de um dos momentos mais tristes e vergonhosos da música brasileira. Elas defendiam a canção de Chico Buarque e Tom Jobim no Festival Internacional da Canção, em 1968, a bela Sabiá que ganharia a etapa nacional e defenderia o Brasil na competição internacional. Diante de um Maracanãzinho inquieto, barulhento e, que já tinha escolhido por razões políticas a canção de Vandré, Prá não dizer que não falei de flores como a preferida, reagiu de modo apaixonado, em vaia ensurdecedora contra elas e seus compositores constrangidos e perplexos com aquele rasgo de incivilidade.
Todos, eu inclusive, tomados por um esquerdismo juvenil, víamos na canção de Vandré a reencarnação de nossa Marselhesa, hino com que derrubaríamos a ditadura militar, nos deixando cegos para a beleza da canção de exílio que era Sabiá, constatação que só o tempo, a serenidade nos tararia anos depois. “Sei que o amor existe/não sou mais triste/e a nova vida já vai chegar/e a solidão vai se acabar”. Cybele, descanse em paz.

Fotos: Ilustrativas

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