quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Quem quiser vatapá, que procure fazer

A malandragem religiosa que se traveste de evangélica, com suas igrejas de resultado, investiu com o cinismo conhecido sobre um dos símbolos da cultura baiana de origem africana como o acarajé, comercializando na porta de seus muquifos ou longe deles, como o “bolinho de Jesus”. Numa tentativa de preservar a sua origem secular e suas ancestralidade com o sincretismo religioso, mais especificamente com o candomblé, como oferenda a Iansã, a orixá dos ventos e das tempestades, a Fundação Pierre Verger, com sede em Salvador, resolveu intervir.

A fundação situada no Engenho Velho de Brotas convida crianças e adolescentes para aprender a cozinhar e conhecer a histórias destas iguarias de origem africana e que na Bahia sofreu algumas transformações sem perder, contudo, a sua essência gastronômica e religiosa. Neste sentido foi lançado o livro Cozinhando história: receitas e mitos de pratos afro-brasileiros que pesquisadoras ligadas à fundação ensinam o preparo de 21 pratos salgados e 11 doces, ressaltando não ser um livro de receita, mas um trabalho de documentação que valoriza as tradições.

O vatapá, por exemplo, era feito com fruta pão, que virava massa a qual era acrescida temperos, dendê, leite de coco e camarão seco. Sem se saber porque, talvez pela excassez do produto, a fruta pão foi trocada por pão dormido e dai pela farinha de trigo e mais adiante a fubá de milho, de arroz e até de batata. As alterações atendiam bem mais as exigências do momento que propriamente uma heresia culinária, já que o vatapá não é propriamente uma comida de santo ao contrario do acarajé. 

Mas, o vatapá se integrou de tal forma aos preceitos do candomblé que Cosme e Damião, os santos meninos, aceitam sem reclamar. O livro é de dar água na boca não apenas pelas fartas e deliciosas ilustrações, mas pelo seu conteúdo histórico e culinário.  

Foto: Ilustrada

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