Talvez ciente de seus males para o país, de sua participação
nefasta no episódio do mensalão, de
suas atribuições nada republicanas como Chefe
da Casa Civil, o réu silencioso arrasta sua pena como um boi que segue
resignado e triste para o matadouro sem esboçar nenhum sinal de clemência ou a
mendicância de perdão.
Sua pena passa de 30 a 40 anos de reclusão, com idas e vindas
quanto à concessão de uma prisão domiciliar, mas segue quieto no seu canto, de
um lado a outro conforme os humores de seus algozes. Há alguma dignidade neste
comportamento, neste silêncio que atordoa autoridades judiciais que esperam uma
delação premiada, como quem pede perdão a cada julgamento, a cada sentença.
Envelhecido, triste, nada declara em troca de uma possível redução
da pena, ao contrário de seus iguais, que como nós um dia amou a revolução que não
se chegou fazer. Não sem certa consternação, creio, assiste o estardalhaço de náufragos
do mesmo barco que sai em desespero de causa, delatando, traindo, apontando
seus dedos sujos na direção de quem um dia lhe deu as mãos, um cargo, uma
notoriedade, como se vê imerecida, dado o tamanho de sua covardia.
Foto: Ilustrativa
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