terça-feira, 3 de outubro de 2017

Nós que amávamos tanto a revolução


Talvez ciente de seus males para o país, de sua participação nefasta no episódio do mensalão, de suas atribuições nada republicanas como Chefe da Casa Civil, o réu silencioso arrasta sua pena como um boi que segue resignado e triste para o matadouro sem esboçar nenhum sinal de clemência ou a mendicância de perdão.

Sua pena passa de 30 a 40 anos de reclusão, com idas e vindas quanto à concessão de uma prisão domiciliar, mas segue quieto no seu canto, de um lado a outro conforme os humores de seus algozes. Há alguma dignidade neste comportamento, neste silêncio que atordoa autoridades judiciais que esperam uma delação premiada, como quem pede perdão a cada julgamento, a cada sentença.

Envelhecido, triste, nada declara em troca de uma possível redução da pena, ao contrário de seus iguais, que como nós um dia amou a revolução que não se chegou fazer. Não sem certa consternação, creio, assiste o estardalhaço de náufragos do mesmo barco que sai em desespero de causa, delatando, traindo, apontando seus dedos sujos na direção de quem um dia lhe deu as mãos, um cargo, uma notoriedade, como se vê imerecida, dado o tamanho de sua covardia.   
Foto: Ilustrativa

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