sexta-feira, 29 de junho de 2012

Santo Antônio, São Pedro e São João


“Nosso amor que eu não esqueço/e que teve seu começo/numa festa de São João”, a partir deste instante o belo e triste samba de Noel Rosa, Último Desejo envereda por caminhos que não seguimos, já que estamos juntos e esperamos continuar, enquanto os nossos netos não chegam. Também não foi propriamente no São João, mas numa pré-temporada junina, já que em férias do trabalho e da escola aguardávamos o inicio dos festejos em uma barraca armada entre a casa de D. Anita Lima e de D. Francisca, área onde hoje foi construída a agência dos Correios. Todas as noites a barraca ou barracas eram regadas a muito licor, quentão, forró e namoro.

As festas de Santo Antonio chegaram para nós já em Salvador. Não apenas na casa de Tininho e Lucinha, na Liberdade, em comemorações a cada dia trezena, em especial nos finais de semana e mais ainda no encerramento. A casa dos primos e amigos era de fieis convictos em sua devoção. A mesa era farta, com todas as iguarias possíveis e próprias da festa, mas nada limitava que profanássemos o ritual, introduzindo com a sutileza de um elefante em casa de louça, algo alem do licor e da fumaça do incenso. Afinal em Salvador o sagrado e o profano sempre caminharam de mãos dadas, como dois namorados. Mas, a trezena do “insigne português”, “o santo casamenteiro”, Santo Antonio teve e tinha para nós o seu ponto alto em casa de Marina, prima de Moema e vizinha do mesmo prédio na Mouraria, onde morava Dona Nonoca, sua tia e da sua prima Norma Maria, nossa fiel escudeira e companheira de farra e fugidas noturnas. Marina, a dona da casa, conduzia as rezas da trezena, com o livro de cântico em uma das mãos e na outra o recipiente com o fumacê do incenso, mas de olho na janela observando a movimentação da rua e se Ricardo, seu filho mais novo, já estava chegando. E Ricardo atrasava e às vezes muito, o que levava Marina a não seguir o escrito nas orações, mas expressar a sua preocupação com o atraso de Ricardo – ô meu Deus, Ricardo ainda não chegou – enquanto o fumacê do incenso rodava pelas narinas dos participantes que se limitavam a tossir ou procurar algum local mais arejado da sala. Era quase um esquete do programa “Sai de Baixo”. 

Os festejos de São Pedro chegaram até nós, mais recentemente, com a viuvez da sogra, em Morro do Chapéu. As festas de Tapiramutá ou Mundo Novo nunca fizeram parte de nosso calendário festeiro, talvez pelas obrigações de trabalho e escola que não impediam, no entanto, a fogueira e o quentão no Morro, sempre com grande número de familiares e amigos em volta da fogueira de D. Lourdes. Sem dúvida a nossa origem sertaneja e muito identificada com os costumes do lugar, da música de Luis Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, nos tornou fieis profanos de Santo Antonio, São Pedro e São João.

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