terça-feira, 3 de julho de 2012

O Cemitério de Automóveis


Assim como os elefantes que procuram um lugar secreto para encerrar as suas vidas, os carros velhos antes de sucumbirem à força da ferrugem procuram a cidade alegre para os seus momentos finais. Aliás, não só aqui, mas em Morro do Chapéu, Mundo Novo, Porto Feliz são outras localidades em que essas carcaças de aço e fibra de vidro vivem seu ocaso antes do lixão. Não chegam a representar o universo do dramaturgo espanhol, Fernando Arrabal, que criou uma alegoria em sua peça “O Cemitério de Automóveis” em que pobres vivem como em palácios dentro de carros velhos e abandonados.

Aqui eles ainda não foram totalmente desprezados, para servir de abrigo aos mendigos e indigentes, já que ainda se arrastam pelas ruas, estradas, asfaltos por um destes mistérios que a só a mecânica e física explicam. Carros docas, totalmente cegos, desprovidos de qualquer farol, farolete, lanterna, algo que espelhe luminosidade, uma espécie de vaga-lume sem pisca-pisca. Capô amarelo, porta direita do carona, azul; porta esquerda do motorista, vermelha; as duas portas traseiras lixadas para alguma pintura que provavelmente nunca aconteça e o porta-malas cinza abrigando um botijão de gás cheio e em uso e um pneu calvo soltando pedaços de borrachas da recauchutagem a que um dia foi submetido.

Hoje encontrei estacionada ou imobilizada uma pick-up que pelas cores que exibia não se sabe se era uma homenagem ou uma metáfora ambulante sobre o nosso Clube de Regatas do Flamengo. Aos pedaços, mas uniformemente distribuído em todas as suas partes, o vermelho e o preto, desbotados, mas rubronegro

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