Assim como os elefantes que procuram um lugar secreto para encerrar as suas vidas, os carros velhos antes de sucumbirem à força da ferrugem procuram a cidade alegre para os seus momentos finais. Aliás, não só aqui, mas em Morro do Chapéu, Mundo Novo, Porto Feliz são outras localidades em que essas carcaças de aço e fibra de vidro vivem seu ocaso antes do lixão. Não chegam a representar o universo do dramaturgo espanhol, Fernando Arrabal, que criou uma alegoria em sua peça “O Cemitério de Automóveis” em que pobres vivem como em palácios dentro de carros velhos e abandonados.
Aqui eles ainda
não foram totalmente desprezados, para servir de abrigo aos mendigos e
indigentes, já que ainda se arrastam pelas ruas, estradas, asfaltos por um
destes mistérios que a só a mecânica e física explicam. Carros docas,
totalmente cegos, desprovidos de qualquer farol, farolete, lanterna, algo que
espelhe luminosidade, uma espécie de vaga-lume sem pisca-pisca. Capô amarelo,
porta direita do carona, azul; porta esquerda do motorista, vermelha; as duas
portas traseiras lixadas para alguma pintura que provavelmente nunca aconteça e
o porta-malas cinza abrigando um botijão de gás cheio e em uso e um pneu calvo soltando
pedaços de borrachas da recauchutagem a que um dia foi submetido.
Hoje encontrei estacionada
ou imobilizada uma pick-up que pelas cores que exibia não se sabe se era uma
homenagem ou uma metáfora ambulante sobre o nosso Clube
de Regatas do Flamengo. Aos pedaços, mas uniformemente distribuído em todas
as suas partes, o vermelho e o preto, desbotados, mas rubronegro
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