quarta-feira, 11 de julho de 2012

Em chamas!


O crime não é novo, mas a capacidade de nos indignarmos terá que ser sempre nova, renovada, sob pena de acelerarmos nossa volta à barbárie, abstraindo momentaneamente, pelo menos em termos teóricos, as implicações e causas sociais dos fatos. Já ocorreu em Brasília, Rio, São Paulo um crime semelhante ao que vitimou um morador de rua em um dos acessos à Estação da Lapa, em Salvador, na madrugada de sexta para sábado. Um grupo de quatro pessoas se aproximou da vítima com um recipiente contendo gasolina, derramou sobre o seu corpo o combustível e ascendeu com um isqueiro a tocha humana.

O homem ardendo desceu as escadarias da Estação clamando por socorro e foi ajudado por três policiais que faziam ronda no local. Sem água nas dependências da Estação, o que não surpreende quem conhece aquele inferno que é a Estação da Lapa e suas clamorosas deficiências, foi sugerido pelos policiais ao homem em chamas que se atirasse sobre a poça d’água ao pé de uma das escadarias como forma de amenizar a sua agonia e o desespero. Um dos policiais entrevistado e emocionado disse que em seus oito anos de serviços não tinha visto nada igual. Tudo que se tratar de afronta, degradação, desrespeito à condição humana terá que ser sempre novo, nunca visto, algo inaceitável; velha, antiga, medieval terá que ser sempre as punições para estes crimes.

Mas, como se diz, a mentira e o crime também têm pernas curtas. Dois dos bandidos ao derramarem o combustível sobre o corpo do indigitado, recebeu respingos do líquido em seus rostos e peitos. Ao ascender a chama receberam de volta também em seus corpos labaredas que queimaram partes expressivas de alguns de seus membros. Temendo alguma associação com o crime praticado foram para as suas residências e no outro dia pela manhã, visto o grau de queimaduras procuraram atendimento. Os atendentes da unidade hospitalar ao providenciarem o internamento de ambos informaram à policia sobre aqueles dois pacientes. Ali mesmo em seus leitos, frente a autoridade policial confessaram o crime, após negativa inicial, onde receberam voz de prisão. Os demais criminosos não demoraram ser identificados. A vítima, que era usuário de drogas, razão de ser morador de rua, foi enterrada ontem ante a revolta familiar.

Foto: Esta é uma das muitas fotos drámaticas da Guerra do Vietnã, em que crianças vietinamitas queimadas fogem do bombardeio americano a sua aldeia (1972).

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