quarta-feira, 4 de julho de 2012

A violência nossa de todo o dia


A exacerbação da violência nas grandes cidades, Salvador, por exemplo, atinge níveis tão assustadores que os crimes mais hediondos, cruéis pela sua barbárie tornaram-se quase uma banalidade que não mais nos assusta e surpreende. É como se uma couraça de insensibilidade e torpor nos anestesiasse os sentimentos de solidariedade e humanismo e, que tudo passa a ser apenas mais um componente de nossa tragédia urbana diária. Os corpos dos jovens pretos e pobres das periferias, largados na marginalidade desde a infância são meros dados estatísticos dos assassinados nos finais de semana. Assim como a médica morta, em frente aos seus filhos menores, por estes mesmos jovens pretos e pobres das periferias, em assalto onde não conseguiram levar o objeto de seu intento, o carro, se iguala como parte do percentual dos crimes praticados em qualquer dia da semana. Choca e revolta enquanto a fila anda indiferente a uma quase guerra civil em que todos têm a sua parcela de inocência e culpa. O horror!

Um crime, no entanto, ocorrido à semana passada em Camaçari chama a atenção não somente pela brutalidade, mas pela quebra daquilo que poderia ser o paradigma de um comportamento humano, mais fraterno, solidário e irmão. Qual o quê! Dois irmãos gêmeos saíram de um evento, talvez uma festa, um aniversário, abraçados em direção a sua residência. No meio do caminho lhes espreitava uma fatalidade. Um grupo de jovens, como eles, entendeu que os mesmos por estarem abraçados eram homossexuais e decidiram como justiceiros que aquilo merecia uma reprimenda. E armados de seus baixos instintos, preconceitos e fúria assassina iniciaram a selvagem execução dos dois irmãos munidos de paralepípedos, chutes, porradas e pontapés com golpes fatais em várias partes do corpo, vitimando um deles.  A estupidez humana que cria aberrações sociais como “estupra, mas não mata”, “pivete bom é pivete morto” vai  acrescentando outras sentenças em seu receituário de indignidades, como “viado bom (mesmo que não seja) é viado morto (ainda que não seja)”. 

A fotomontagem que ilustra o texto é parte de uma campanha publicitária da Benetton, onde dois representantes de religiões cristãs, talvez divergentes, se abraçam e se beijam num gesto de paz.        

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