sexta-feira, 29 de maio de 2015

No creo en brujas, pero que las hay, las hay

No Largo do Pelourinho, está instalado o Museu da Cidade, um casarão na cor amarela ao lado da Fundação Casa de Jorge Amado. Este Museu tem no seu acervo objetos pertencentes ao poeta Castro Alves, esculturas, tapeçarias da cultura baiana e o mais interessante, reproduções em tamanho natural de vários orixás entre outras entidades do candomblé. 

Um amigo nosso que prestou serviço no Museu, como funcionário da Prefeitura a quem a instituição está subordinada, conta algumas histórias que parecem saídas de filmes de suspense. Com todo respeito, nosso amigo, não é o que se pode chamar de um homem de coragem, longe disso e de gestos de heroísmo ou valentia. 

Segundo ele, as velhas portas do casarão, depois que entardecia, rangiam e batiam sem que ninguém se aproximasse ou passasse pelas mesmas. A saia de um orixás se desprendeu da cintura sem que nada justificasse a queda da indumentária. Certa vez, um “Preto Véio” que ficava em um canto de sala no segundo andar, apareceu no outro dia, misteriosamente, no andar de baixo, sem que houvesse qualquer mudança na disposição dos objetos promovida pela direção da casa. Ele num gesto invulgar, para a sua capacidade de enfrentar perigo ou fugir deles, se atracou ao “Preto Véio” para fazê-lo retornar ao seu lugar de origem. 

Qual o quê! As reproduções eram leves estruturas de compensado e papel, cujo peso se existissem vinham dos adereços e roupas, porém nada que não pudessem ser facilmente removidos de um lado para o outro. O “Preto Véio”, no entanto, se transfigurou num força medonha e um peso descomunal que nada de puxão, solavancos, empurrões abalavam sua firme convicção de que seu lugar era alí. E assim foi feito e nosso amigo resolveu não se indispor com o “Preto Véio”, mesmo que a direção do Museu viesse estranhar esta nova paginação da sala onde se encontrava a entidade, e assim fosse repreendido.

Pelo sim, pelo não, nunca mais entrei no Museu da Cidade, prefiro admirar a sua construção e imaginar as relíquias culturais ali guardadas, do que me arriscar a tomar um tombo de uma pomba gira desgovernada. “No creo en brujas, pero que las hay, las hay”.

Foto: Museu da Cidade

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