sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Naquela mesa


Há 15 dias encontrei no auto-atendimento do Banco do Brasil um casal de amigos e contemporâneos de juventude. Após as saudações habituais, ela me perguntou se eu lembrava de uma mesa muita grande que havia na sala de nossa casa na Praça Getulio Vargas, aqui na cidade. Após o espanto inicial pela curiosidade, respondi: “claro”, lembrava sim, ao que ela complementou, pois esta mesma está comigo e quero me desfazer, e pensei em lhe procurar se não havia algum interesse de nossa parte ou de alguém da família, destino mais que natural para mesa grande. Agradeci a lembrança, o cuidado, mas não tinha como reaver a mesa e encontrar um lugar para ela nessas nossas moradas comprimidas, que são os apartamentos. Pelo menos aqueles das pessoas com quem me relaciono.

Mas, a mesa bateu forte em minha memória, como tantas vezes bati a cabeça, correndo e tentando me esconder das chicotadas de mãe Maria, quando ela disciplinadora, achava que havia algum sinal invadido por mim..., e como havia. Ali, Pedro meu pai, ocupando uma das cabeceiras reunia a sua numerosa prole na hora das refeições - em um silencio ensurdecedor, apenas quebrado por ele - rituais que ele pouco participava, em verdade, razão de seus compromissos comerciais em Senhor do Bonfim e Juazeiro.

Também, em uma das cabeceiras da mesa grande, mãe Maria colocava um copo d’água para ser abençoado, todas às 18 horas, durante a oração de Júlio Louzada, na Rádio Tupi do Rio. Hábito muito comum nas famílias religiosas do país, por muito tempo. Era ali, na mesa grande, que as manas espalhavam metros e metros de tecidos, para depois munidas de fita métrica e tesoura dar forma aos vestidos que logo estariam nos corpos de suas clientes em festas, casamentos e batizados.

Do meu lado, além de transformar a mesa grande em meu local de estudos, juntamente com outros colegas, servia em momentos de lazer em mesa de ping-pong para desespero de mãe Maria, cada vez que uma raquetada sem direção atingia a peça onde ficava a moringa, com a água que bebíamos, indo ao chão com o estrago previsível. Era o fim daquela partida e das próximas até o seu esquecimento, em nova partida. 

Naquela mesa estão faltando todos, quase todos, mas a saudade deles ainda dói em mim.

Foto: Meramente ilustrativa

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