Cada vez que volto prá casa, visito a dependência do apartamento onde se comprime entre tantos bagulhos os inesquecíveis vinis, os mais que saudosos LPs. E de modo aleatório puxo qualquer um deles pelo mero prazer de tê-lo nas mãos e bisbilhotar a sua ficha técncica, suas letras, seus arranjadores e músicos, algo impensável nos CDs. Desta vez, o premiado foi o LP Alô alô Brasil, de Gonzaguinha, de 1983 que traz sucessos como Um homem também chora e Feliz alem de letras que flertam com o clima libertário do fim da ditadura militar que se aproximava, em 1985.
Mas, o que chama atenção mesmo é o design do disco. Um envelope, com bordas verde e amarelo, destinatário e remetente especificado tal qual este que usamos ou usávamos em troca de correspondências via Correios do Brasil, e dentro dele, o LP propriamente dito. No lugar dos selos tradicionais com gravuras de árvores, animais ou personalidades históricas do país, estão registradas as silhuetas de Gonzaguinha e de seus músicos como Fredera, Jota Moraes, Pascoal Meireles, Paulo Maranhão, Ricardo Pontes.
Toda esta gama de informação e prazer foi dissipada com a redução do espaço onde se acondiciona, Deus e a tecnologia sabem, o CD. Tudo reduzido, comprimido e que até hoje isto começa a nos fazer falta, já que os CDs foram ou estão sendo substituídos pelos pen drive. E pelo andar da carruagem teremos apenas a voz do vento a registrar os sons de nosso tempo, para aqueles que ainda não perderam de vez a audição exposta que está aos decibéis incontroláveis dos trambolhos sonoros que perambulam pelas ruas e bares de nossas cidades.
Foto: Ilustrativa
Foto: Ilustrativa
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