sexta-feira, 11 de julho de 2014

Meus quintais

A cantora Maria Betânia faz parte de um rol de artistas cuja grandeza e importância na música popular de qualquer país, por felicidade está inserida no nosso, que tem a liberdade de gravar o que quiser, seguindo a sua própria intuição e desejo, sem nenhum atrelamento a direção e produção das gravadoras. Isto quando as gravadoras tinham as rédeas do mercado fonográfico e determinavam o que gravar pelos seus artistas, que tinham contrato de exclusividade com elas, em geral de olho nas paradas de sucesso, nas trilhas de novelas globais e nas vendas, muitas, com disco de ouro, platina etc.

Este mundo ruiu, com a entrada em cena da pirataria e das tecnologias trazidas no bojo do desenvolvimento das novas mídias e da explosão da internet, onde cada artista pode criar seu próprio estúdio de gravação com computadores modestos ou de última geração e divulgar seus próprios trabalhos pela rede, para o mundo. Às gravadoras restaram o inestimável acervo deixado pelos seus ex-contratados e mais uns dois ou três gatos pingados por razões de mercado, além dos sertanejos e pagodeiros, esta gente que faz música (?) de olho no “camaro amarelo” e no “beijinho no ombro”. Arrrgghh!

Betânia logo cedo saltou fora desta barca, criou seu próprio selo e grava seus discos de acordo as suas convicções, motivações e lembranças, enfim detém total controle sobre o que gravar, quais músicos quer ter em sua companhia, que projeto tocar como este, de seu último disco, Meus quintais. Algo tão pessoal e cheio de lembranças de sua infância, sua mãe, sua família, das festas de Santo Amaro, dos quintais, rede, chão, das lendas que ouvia, enfim um disco personalíssimo, que atende unicamente a ela como artista e cidadã do mundo. 

O prazer da audição vem pela certeza da qualidade da produção, dos músicos, dos compositores escolhidos como, Roque Ferreira, Adriana Calcanhoto, Chico César, Dori Caymmi, Paulo César Pinheiro e das regravações de Mãe Maria, já gravada em Pássaro Proibido e da bossanovista Dindi. Um disco para os seguidores de Betânia, e muito distante dos mais belos discos de sua discografia, mas esta grande artista brasileira se permite o deleite de gravar o que bem entender e os seus admiradores entendem. Acredito.

Foto: Capa do novo disco de Betânia

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