quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sertanília

Sabe-se que a ditadura da “axé music” na Bahia funciona como um rolo compressor que atropela qualquer outra tendência musical que não leia pela cartilha da mesmice, do baixo nível, da indigência que é o seu receituário e, que só abre, só da passagem, para os iguais, como o famigerado pagode baiano. Mas, as produções fora deste circulo vicioso e viscoso existem e insistem em acontecer, como tudo que precisa brilhar nada detém, até que um dia furem este bloqueio, este mau gosto reinante, e venham ocupar a boca de cena, os holofotes, o conhecimento público. Só por existirem e insistirem em acontecer já merece a nossa atenção, quando a própria “axé music” e esta excrescência, o pagode baiano, já dão sinais de exaustão, de cansaço.

Um exemplo desta perseverança pode ser visto neste último final de semana, dentro da programação da Caixa Cultural, com o grupo Sertanília que se debruça sobre as manifestações sertanejas de modo original como já faziam Diana Pequeno, Rose, Décio Marques, Dorothy Marques e o poeta e cantador baiano, autor de canções medievais Elomar Figueira Mello, na década de 80. Com sonoridade própria que privilegia violões, violas, flautas, violoncelo, tambores de Minas e do maracatu, o Sertanília, além de repertório autoral, faz releituras de canções de Lenine, Antônio Nóbrega e do próprio Elomar

Faz lembrar as canções do movimento “armorial” criado em Recife pelo escritor e poeta Ariano Suassuna que imprime um caráter erudito às manifestações de cunho popular com uma musicalidade solene, criativa, original que tem o sertão como porto de chegada. O Sertanília nos faz crer que nem tudo está perdido quando se trata desta vadia e mercantil música baiana.

Foto: Sertanília

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