Sabe-se que a ditadura da “axé music” na Bahia
funciona como um rolo compressor que atropela qualquer outra tendência musical
que não leia pela cartilha da mesmice, do baixo nível, da indigência que é o
seu receituário e, que só abre, só da passagem, para os iguais, como o famigerado
pagode baiano. Mas, as produções fora deste circulo vicioso e viscoso existem e
insistem em acontecer, como tudo que precisa brilhar nada detém, até que um dia
furem este bloqueio, este mau gosto reinante, e venham ocupar a boca de cena,
os holofotes, o conhecimento público. Só por existirem e insistirem em
acontecer já merece a nossa atenção, quando a própria “axé music” e esta excrescência,
o pagode baiano, já dão sinais de exaustão, de cansaço.
Um exemplo desta perseverança pode ser visto neste
último final de semana, dentro da programação da Caixa Cultural, com o grupo Sertanília
que se debruça sobre as manifestações sertanejas de modo original como já
faziam Diana Pequeno, Rose, Décio Marques,
Dorothy Marques e o poeta e cantador baiano, autor de canções medievais Elomar Figueira Mello, na década de 80.
Com sonoridade própria que privilegia violões, violas, flautas, violoncelo,
tambores de Minas e do maracatu, o Sertanília, além de repertório autoral,
faz releituras de canções de Lenine, Antônio
Nóbrega e do próprio Elomar.
Faz
lembrar as canções do movimento “armorial” criado em Recife pelo escritor e poeta Ariano
Suassuna que imprime um caráter erudito às manifestações de cunho popular
com uma musicalidade solene, criativa, original que tem o sertão como porto de
chegada. O Sertanília nos faz crer
que nem tudo está perdido quando se trata desta vadia e mercantil música baiana.
Foto: Sertanília
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