quarta-feira, 9 de julho de 2014

Saudades da Copa, Saudades do Brasil

Pode ser alienação, mas às vezes penso de que me adiantou a compreensão juvenil de classe social expressa através daqueles que dançavam e brincavam o São João na “27 de Setembro” se confrontados àqueles que se divirtiam também, mas no Clube dos Artistas, instalado em um imóvel de esquina onde funcionou, por muito tempo, o motor Caterpillar que iluminava a cidade. Era muito mais fruto de um preconceito que a tola constatação de luta de classes. 

O mundo desigual e injusto que passei a sentir e absorver a partir do Colégio da Bahia, Central, e de todas aquelas manifestações políticas e culturais que abracei na segunda metade dos anos 60, cuja politização foi sendo introjetada com a pressa dos acontecimentos, correndo da policia, fugindo da repressão às passeatas contra a ditadura militar, me conduziram a um envelhecimento precoce. Os ombros suportando o peso do mundo de que nos fala Drummond, em um tempo que não adianta morrer, já que viver é uma ordem, viver apenas, sem mistificação.
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Foi como ter abdicado da alegria em função da sisudez de uma esquerda triste e também envelhecida, cujos parâmetros de conduta e visão do mundo os militantes da luta armada, no exílio, tentaram desmistificar, bafejado que foram pelas aragens de uma nova esquerda europeia e suas bandeiras ligadas a ecologia, a sexualidade, ao fim da utopia de um sonho acabado.

Hoje sem qualquer pudor me vejo enredado pela prazer da Copa do Mundo 2014 em nosso país e da explosão de alegria icontida e vivenciada pelas grandes cidades, nos estádios, nas ruas, nos palcos, longe de uma visão crítica, apolítica, de quem aceita o circo na falta do pão, em troca da alegria. Foi bonito de ver o que vi e modestamente vivi em Salvador nestes dias do Mundial, por aqui. 

Valeu termos feito a Copa das Copas e o sorriso de felicidade de quem, mesmo que por alguns instantes, voltou a ter orgulho do Brasil e de seu hino, cantado “a capella” nos estádios numa demonstração admirável de fervor cívico juvenil, contrariando a orientação da FIFA no cumprimento dos horários das partidas. O Brasil e seu hino eram maiores que as normas da FIFA.

Fotos: Ilustrativas

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