Em uma dessas viagens noturnas da “cidade
alegre” a Salvador, uma senhora
procedente de Irecê se levantou em
direção ao sanitário, tão logo o ônibus deixou a rodoviária e, dois ou três
passos adiante desabou, desmaiou e ficou estendida no corredor do ônibus. Sua
irmã aflita se levantou ao mesmo tempo em que eu, para socorrê-la.
Uma
passageira que também havia embarcado em Piritiba,
era funcionária do Hospital e pediu que o motorista parasse no ponto em frente à casa de saúde, para que ela
pegasse o estetoscópio, já que não havia médico de plantão naquele horário,
mais de meia noite. Ela era enfermeira. Dentro do ônibus ela auscultou a paciente
estendida no corredor e constatou que tinha havido uma queda de pressão e então
providenciou água, café e aos poucos a paciente foi se recuperando, se levantou,
ocupando a sua poltrona, na frente, ao meu lado, e a viagem seguiu sem sobressalto,
até aqui.
O mais triste da história foi o comportamento
dos passageiros cujas poltronas ladeavam a passageira deitada no corredor, sem
esboçar qualquer reação de ajuda, de solidariedade, de espanto enfim. Permaneciam
impassíveis, dormindo ou fingindo dormir, simplesmente indiferentes a toda
aquela movimentação de alguns poucos e solidários passageiros.
Ontem, ao fazer o mesmo percurso, um passageiro
desceu na rodoviária de Feira para
tomar um cafezinho, quando se ouviu, logo depois, um forte tombo e um grito.
Uma senhora próxima a mim levantou espantada, gritando: “foi ele, foi ele” e
desceu do ônibus, no que a acompanhei. O homem estava deitado se contorcendo em
dores, causado por uma queda em razão de sua falta de firmeza em um dos joelhos,
proveniente de problemas reumáticos. O que se passou a seguir não difere muito
da situação anterior, para a minha angústia e mal estar até, felizmente, chegar
em casa.
Pessoas como aquelas que foram testemunhas omissas
do sofrimento alheio pode se formar qualquer coisa, uma quadrilha que explode
bancos; uma administração municipal ou federal; uma banda de funk ou pagode
baiano; um ex-craque pentacampeão do mundo; uma manifestação de “coxinhas”
contra a presidente, enfim qualquer coisa mesmo. Jamais, uma cidade, um estado,
um país. “Gente estúpida, gente hipócrita!”
Foto: Ilustrativa
Foto: Ilustrativa
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