Certa feita, num sábado vazio e lento, fomos com o amigo e
companheiro de pensionato, João Neto,
um abusado e apaixonado flamenguista, como convém a todo torcedor do Flamengo, visitar o nosso time que
estava de passagem pela cidade. Hospedado no Hotel Oxumaré, na ladeira de São
Bento, o “Mengo” iria fazer uma
partida amistosa com o Esporte Clube
Bahia.
O nosso Flamengo
trazia como grande atração, o jogador Berico,
recém contratado junto ao Guarani de
Campinas, como a maior revelação do
campeonato paulista daquele ano. Berico
era um crioulo alto e forte, tipo estivador, alegre e desembaraçado, que
parecia trazer na boca mais dentes que comportava a sua arcada dentária. Cada
frase que Berico tentava articular trazia além do sotaque de caipira
campineiro, um atentado à língua mãe extensivo a toda parentalha latina.
Domingo, Fonte Nova
lotada e nós lá, engrossando a torcida daquele que seria nosso segundo clube: O
Vitória. O time do Bahia possuía uma dupla de zagueiros
formada por Henricão e Roberto Rebouças que atuava como
empregados, “fugidos e mal pagos”, do Nina
Rodrigues. Um esquartejava e o outro dissecava, ante o olhar complacente do juiz, que atuava sob a ameaça
de possíveis sopapos de Osório Vilas
Boas, o xerife do lugar.
Numa dessas investidas, logo nos primeiros minutos da
partida, mandaram Berico de volta
para a casa da sua genitora, em Campinas.
E nunca mais se soube de Berico, nem
de seu autógrafo digital, segundo a constatação de João Neto sobre o analfabetismo do craque rubronegro.
Foto: Ilustrativa
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