quinta-feira, 19 de maio de 2016

Em defesa dos animais

Por muito tempo o Bar da Praça pertenceu ao mano Juracy e ali passei boa parte da minha infância e adolescência, fazendo e despachando, juntamente com Nadinho, refresco da maracujá, abastecendo com cerveja e pinga os consumidores do balcão ou das mesas. E nas horas vagas, que eram muitas, comia chocolate Diamante Negro, quando não levava prá casa e estocava debaixo da cama. (Perdoe mano, estas inconfidências). 

Nos fundos do bar havia uma rinha que aos domingos recebia grande contingente de aficionados por sangue e pelo sofrimento dos animais, no caso os galos de briga. Convivia não sem certo incomodo com aquela realidade, não só no bar como também em casa onde o mano levava os animais para o sacrifício ou para remendos na cabeça, peito e coxas. 

Estas cirurgias eram algo tão ou mais absurdas que os próprios combates dos animais na rinha, com a vantagem (como se houvesse alguma) destes rituais macabros não serem acompanhados dos gritos histéricos de uma torcida apoplética e em transe. 

Com a cabeça estourada pelas esporas adversárias, o animal era colocado entre as pernas do mano que com uma agulha e linha grossa iniciava uma serie de pontos, como se estivesse costurando gomos de uma bola de futebol. O animal desfalecido, sem força, não esboçava qualquer reação, era apenas a continuação dos golpes sofridos na rinha. 

Foto: Ilustrativa

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