Por muito tempo o Bar da Praça pertenceu ao mano Juracy
e ali passei boa parte da minha infância e adolescência, fazendo e despachando,
juntamente com Nadinho, refresco da
maracujá, abastecendo com cerveja e pinga os consumidores do balcão ou das
mesas. E nas horas vagas, que eram muitas, comia chocolate Diamante Negro, quando não levava prá casa e estocava debaixo da
cama. (Perdoe mano, estas inconfidências).
Nos fundos do bar havia uma rinha
que aos domingos recebia grande contingente de aficionados por sangue e pelo
sofrimento dos animais, no caso os galos de briga. Convivia não sem certo
incomodo com aquela realidade, não só no bar como também em casa onde o mano
levava os animais para o sacrifício ou para remendos na cabeça, peito e coxas.
Estas
cirurgias eram algo tão ou mais absurdas que os próprios combates dos animais
na rinha, com a vantagem (como se houvesse alguma) destes rituais macabros não
serem acompanhados dos gritos histéricos de uma torcida apoplética e em transe.
Com a cabeça estourada pelas esporas adversárias, o animal era colocado entre as
pernas do mano que com uma agulha e linha grossa iniciava uma serie de pontos, como se estivesse costurando gomos de uma bola de futebol. O animal desfalecido,
sem força, não esboçava qualquer reação, era apenas a continuação dos golpes
sofridos na rinha.
Foto: Ilustrativa
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