quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Subúrbio


Chico Buarque tem uma música, Subúrbio, que fala de um Rio menos glamoroso, ou sem qualquer atrativo, sem moças douradas, sem visitantes, sem cidadania, sem paisagens turística, sem cartão postal. 

É o Rio barra pesada que abandonado à própria sorte por anos e anos de indiferença governamental, resolveu buscar na tora, na marra, a justiça social a tanto negada. E ela veio de forma enviesada, criminosa, sangrenta, segregacionista, fora da lei. Lá a chapa é quente, “É pau, é pedra/É fim de linha/É lenha, é fogo, é foda”.
Lá não tem brisa
Não têm verde-azuis
Não tem frescura nem atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade

Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa

Lá não tem moças douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus exus
Não tem turistas
Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha a tua voz
Nos arredores
Carrega a tua cruz
E os teus tambores

Foto: Ilustrativa

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