Chico Buarque tem uma música, Subúrbio, que fala de um Rio menos glamoroso, ou sem qualquer
atrativo, sem moças douradas, sem visitantes, sem cidadania, sem paisagens turística,
sem cartão postal.
É o Rio barra
pesada que abandonado à própria sorte por anos e anos de indiferença
governamental, resolveu buscar na tora, na marra, a justiça social a tanto
negada. E ela veio de forma enviesada, criminosa, sangrenta, segregacionista, fora da lei. Lá a chapa é quente, “É pau, é pedra/É fim de linha/É lenha, é fogo, é
foda”.
Lá não tem brisa
Não têm verde-azuis
Não tem frescura nem
atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha,
é labirinto
É contra-senha, é cara
a tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade
Vai, faz ouvir os
acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a
roda de samba
Dança teu funk, o rock,
forró, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa
Lá não tem moças
douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus
exus
Não tem turistas
Não sai foto nas
revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha a tua voz
Nos arredores
Carrega a tua cruz
E os teus tambores
Foto: Ilustrativa
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