Talvez, somente a timidez mineira para justificar a ausência e falta de reconhecimento do Clube da Esquina junto a mídia, como um dos mais importantes movimentos dentro da música brasileira. Há críticos e historiadores que consideram o grupo mineiro como mais revolucionário para a nossa música que o Tropicalismo, o que gera controvérsia. Sou, por exemplo, tropicalista e admirador, mas também critico, dos baianos Caetano e Gil, responsáveis pelo arejamento e modernização da música brasileira, embora tenha Milton, Beto, Lô Borges, Wagner Tiso como músicos e artistas com cadeira cativa em minha discoteca. Faltou aos mineiros a loquacidade dos baianos, a capacidade de criar fatos, extravagâncias, polêmicas tão ao gosto da mídia, que mesmo condenando certas atitudes contribui por espalhar e sedimentar uma marca, um nome, independente do talento de cada um deles. Já os mineiros não, na deles, comendo quieto, pelas beiras, sem qualquer estardalhaço, construindo e consolidando, silenciosamente, carreiras como a de Milton que é um verdadeiro monólito dentro do nosso tão vasto mundo musical.
Pois Milton Nascimento e sua turma do Clube da Esquina completam este ano 40 anos de criação, que é na verdade o ano de lançamento do primeiro volume do disco Clube da Esquina, 1972, um álbum duplo que traz na capa duas crianças, uma branca e outra negra, sentadas num terreno baldio: Milton e Lô Borges. O disco é repleto de canções admiráveis com influência dos Beatles, toadas mineiras, psicodelia como em Um girassol da cor de seu cabelo, Tudo o que você podia ser, Cais, Cravo e canela, San Vicente, Clube da esquina, Saídas e bandeiras (“o que você diria dessa coisa que não dá mais pé”) e a regravação de Me deixa em paz de Monsueto em dueto de Milton com Alaíde Costa, é luxo só.
Em 1978 foi lançado o Clube de Esquina 2 que é uma continuidade e uma confirmação da usina musical que os mineiros trouxeram para a nossa música e que Credo, Canoa, canoa, Paixão e fé, Maria, Maria, Testamento, Canção amiga, Nascente são exemplos que orgulham e iluminam a careira de qualquer artista, brilhantes em tudo que fazem, sem pirotecnia nem teorias transcendentais.
Foto: Beto Guedes, Milton e Lô Borges
Foto: Beto Guedes, Milton e Lô Borges
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