Domingo nublado e frio como tem sido estas manhãs na cidade alegre, a espera da chuva que ameaça, prepara, forma nuvens, balança, balança, balança, mas na cai. E sem que se saiba porque amanheci ouvindo “quero que você me aqueça neste inverno/e que tudo mais vá pra inferno” do disco Jovem Guarda do Rei, de 1965, que deflagrou o movimento que aglutinaria toda musica jovem que se fazia no país naquela metade dos anos 60. Mas em que pese a novidade, hoje vista de longe eram canções ingênuas, quase bobas, num tempo em que íamos perdendo lentamente esta inocência, mas era bom ouví-las. Bem mais que ouvirmos Orlando Dias, Nelson Gonçalves, Silvinho, Carlos Alberto, Anísio Silva que nos falavam de uma realidade de amores, dramas, perdas e paixões arrebatadoras que ainda viveríamos, naquele momento não.
Mas a maturidade do Rei, a perda também da sua inocência, o seu crescimento musical viria em discos antológicos como o gravado em 1968, que traz o título de O inimitável, o que não é comum na carreira do Rei, dar títulos aos seus discos. Neste disco é perceptível a mudança em sua musicalidade com a influência do “soul music” americana e a utilização de metais nos arranjos de musicas como Se você pensa, Ciúme de você, além de canções importantes em seu repertório como E não vou mais deixar você tão só, (Antonio Marcos) e As canções que você fez prá mim.
O disco do ano seguinte, 1969, traz o Rei sentado na praia rabiscando alguma coisa e mantém a mesma pegada criativa do anterior e vai de cabeça na “black music” em arranjos como o de Não vou ficar de Tim Maia e em As curvas da estrada de Santos que são gravações primorosas, definitivas em sua carreira. Faz parte também deste disco Sua estupidez e As flores do jardim de nossa casa, bons exemplos do que um dia o Rei foi capaz, até ir aos poucos se afastando deste universo criativo ao tempo que sua carreira se consolidava como um grande vendedor de discos e, então foi se dedicar a compor canções impróprias para diabéticos.
Fotos: Capas dos discos do Rei
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