domingo, 9 de dezembro de 2012

A bossa nova é f(*).


Não é um disco prá tocar no rádio, até porque o rádio tem suas obrigações culturais com Luan Santana, Gilberto Lima, Claudia Leite e toda esta traquitana baiana via Psirico, Silvano Sales, Parangolé entre outras excrescências. Não é também um disco para “entendido” como foi o Araçá Azul, pois a palavra ganhou um outro significado que não ajuda a compreensão do trabalho. Abraçaço, o novo disco de Caetano é para aficionados, quem acompanha a carreira como profissional, como cidadão e a sua figura controvertida e polêmica, mas não menos criativa e eternamente jovem e inquieta. Um exemplo é a canção que abre o disco, A bossa nova é foda e nos põe em contato com um caleidoscópio de imagens, enigmas, charadas, citações e naturalmente algumas maluquices.

A bossa nova é vista por Caetano não como algo doce, terno, traduzida por amor, flor, barquinho, mar azul, sol e luz, mas como um cruzado na música que se fazia no país, envelhecida e abolerada. Frases como “quando chegares aqui/que é um dom que muito homem não tem/que é influencia do jazz” são colagens que remetem a Carlos Lyra, assim como o “tom de tudo/comanda as ondas/cruel destruidor de brilho intenso/deu ao poeta/velho profeta” são referências a Tom Jobim, Vinícius e Newton Mendonça.

E esta violência estética da bossa nova é vista contraposta do ponto de vista histórico com outra invenção brasileira que é o MMA onde as citações a estes desbravadores do novo esporte, pelo qual não tenho nenhuma simpatia, são enumeradas através de versos como “O velho transformou o mito das raças tristes/Em Minotauros, Junior Cigano/em José Aldo, Lyoto Machida/Vitor Belfort, Anderson Silva/ E a coisa toda/a bossa nova foda”.

É o Caetano de sempre, surpreendente e genial como foi no disco novo de Gal, Recanto e em algumas canções deste Abraçaço, lembrando que “a nossa vida nunca mais será igual/Samba de roda, neo-carnaval/Rio São Francisco, Rio de Janeiro, canavial".

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