Não é um disco prá tocar no rádio, até porque o
rádio tem suas obrigações culturais com Luan
Santana, Gilberto Lima, Claudia Leite e toda esta traquitana baiana via Psirico, Silvano Sales, Parangolé entre
outras excrescências. Não é também um disco para “entendido” como foi o Araçá Azul, pois a palavra ganhou um
outro significado que não ajuda a compreensão do trabalho. Abraçaço, o novo disco de Caetano
é para aficionados, quem acompanha a carreira como profissional, como cidadão
e a sua figura controvertida e polêmica, mas não menos criativa e eternamente
jovem e inquieta. Um exemplo é a canção que abre o disco, A bossa nova é foda e nos põe em contato com um caleidoscópio de
imagens, enigmas, charadas, citações e naturalmente algumas maluquices.
A bossa nova é vista por Caetano não como algo doce, terno, traduzida por amor, flor,
barquinho, mar azul, sol e luz, mas como um cruzado na música que se fazia no
país, envelhecida e abolerada. Frases como “quando chegares aqui/que é um dom
que muito homem não tem/que é influencia do jazz” são colagens que remetem a Carlos Lyra, assim como o “tom de tudo/comanda
as ondas/cruel destruidor de brilho intenso/deu ao poeta/velho profeta” são
referências a Tom Jobim, Vinícius e Newton
Mendonça.
E esta violência estética da bossa nova é vista
contraposta do ponto de vista histórico com outra invenção brasileira que é o MMA onde as citações a estes desbravadores
do novo esporte, pelo qual não tenho nenhuma simpatia, são enumeradas através de
versos como “O velho transformou o mito das raças tristes/Em Minotauros, Junior Cigano/em José Aldo, Lyoto
Machida/Vitor Belfort, Anderson Silva/ E a coisa toda/a bossa nova foda”.
É o Caetano de sempre, surpreendente e
genial como foi no disco novo de Gal,
Recanto e em algumas canções deste Abraçaço,
lembrando que “a nossa vida nunca mais será igual/Samba de roda, neo-carnaval/Rio
São Francisco, Rio de Janeiro, canavial".
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