Ontem, em grande parte do dia e da noite ouvi o novo disco de Caetano, Abraçaço, em especial as faixas a “Bossa nova é foda” e “Um comunista” mais especificamente ainda esta última por tratar de uma reverência a um mito de nossa geração política e de sua utopia comunista, como diz a própria letra. Marighela líder de guerrilha entre grupos de esquerda que desafiou a ditadura e os milicos foi morto em uma emboscada em uma rua de São Paulo na mesma época em que Gil e Caetano estavam exilados em Londres.
Caetano lembra um artigo seu para o Pasquim, que também lembro, afirmando que ele, o artista, estava morto, enquanto ele, Marighela, de fato morto e que estampava juntos com eles a mesma capa da extinta revista Manchete, estava vivo. A referência não era explícita, embora no texto do Pasquim ele se referisse à revista, ninguém entendeu ou percebeu esta associação com o líder guerrilheiro. O fato é citado na longa letra de Um comunista, com duração de mais de 08 minutos em que ele também reconhece que a frase do artigo para o Pasquim, de fato passou despercebida por tantos, por todos.
Não é uma canção de protesto, mas, uma elegia arrastada e triste em uma narrativa em que fatos da vida do guerrilheiro baiano são lembrados com citações de mulheres e companheiras de luta, os sonhos, os inimigos e algozes como Vargas, Magalhães pedras na construção de sua utopia socialista. “Um mulato baiano/que morreu em São Paulo/baleado por homens do poder militar/nas feições que ganhou em solo americano/A dita guerra fria/Roma, França e Bahia./Os comunistas guardavam sonhos/Os comunistas! Os comunistas!”
Foto: Marighela
Foto: Marighela
Nenhum comentário:
Postar um comentário