“Eu só sei que há momentos/Que se casa com canção/De fazer tal casamento/Vive a minha profissão” os versos de “Canções e momentos” de Milton Nascimento iniciam e encerram o espetáculo Cartas de Amor que Betânia apresentou ontem e se despedirá hoje no Teatro Castro Alves. Se há um profissionalismo exemplar da artista há também a sempre presente marca registrada de suas apresentações, o bom gosto, a qualidade dos músicos e desnecessária confirmação de uma grande interprete, única talvez da música brasileira em atuação. Betânia nos pega pela palavra, pela emoção, pelo canto preciso, pelo tom exato e contido de uma postura cênica sem os arroubos de uma voz desenfreada e áspera sem amarras a atropelar a emissão das palavras, por uma respiração ofegante que comprometia a dicção, a divisão das frases como já foi sua característica tempos atrás.
Tudo mudou. A correria para um lado e outro do palco, a troca de roupa três vezes ou mais a cada show foram substituídas pela sobriedade, pela ocupação do centro do palco, sem comprometimento da teatralidade dos gestos outra marca de seu canto que permanece inalterada e que confere às canções a força do significado de cada frase, cada palavra. O máximo que ela se permite são alguns rodopios de samba de roda quando ela acompanhada pelo baterista e pelo percussionista Pantico e Marcelo Costa que juntos encadeiam uma serie de chulas do recôncavo intercalando com os versos de Reconvexo de Caetano num dos momentos mais alegres e descontraídos do show.
O repertório do show foi pinçado de seus últimos discos como Tua, Encanteria e Oásis de Betânia, deixando de lado canções destes discos que não poderiam ter ficado de fora, como Saudade que ela canta com Lenine no cd Tua ou Fado do disco Oásis, mas aí é uma questão pessoal que varia sem agradar a todos, o que é impossível. Por outro lado recorre a canções que permanece na memória de seus admiradores e que ela afaga quando canta Negue, Sangrando, Fera ferida, Na primeira manhã, Fogueira acompanhada por músicos estelares como Wagner Tiso, Jorge Helder, Tómas Improta entre outros. Tudo perfeito para uma interprete perfeita.
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