Estamos a uma semana do inicio do verão, mas há
muito ele já nos faz companhia. Dias quentes e insuportavelmente ensolarados promovem
noites de igual intensidade e o incômodo
de quem serve de alimento para muriçocas, dia após dia, noites sem fim. O dial
da rádio transita entre a Rádio Globo-RJ
e a Rádio Itatiaia-MG que já
conhece no escuro do quarto onde os meus dedos querem lhe levar de acordo com
programação que já memorizei. Tanto faz se uma, três e meia, duas horas da
manhã, mesmo que noite, O Globo no ar,
Beto Brito, Renato Gonçalves tudo passa por ali, por noites intermináveis
que acabam a caminho da pista do aeroporto onde realizo as minhas caminhadas
matinais, quase noturnas.
Hoje, meio dia, a caminho de casa, observava um
céu de um azul plácido, sem qualquer sinal de nuvem e que era cenário para que
o astro rei testasse as suas mais inquietantes temperaturas, para cabeças com
pouca telha como a minha, fazendo mais efeito que o conhaque com limão do bar
de Beto, como suposta panaceia para
uma gripe renitente. Há muito abdiquei destes destilados, em troca dos
fermentados, mas nada como um pé na cozinha e na crença popular de que o
conhaque com limão e mel podem fazer milagres. “Yo no creo en brujas, pero que lós
hay, lós hay”.
Todo este abrasamento poderia ser sinal de
chuva, poderia, mas ela, a chuva, se vem, passa ao largo, em direção ao Porto Feliz, e do próprio Largo, aqui não, é como se em cada
esquina houvesse um burro morto e enterrado, na 27, Tamarineiro, Senadinho, Bar de Zequinha, o terreiro de Zé Bode, o Curral do Conselho, fazendo
nos purgar de pecados que não cometemos, ou não.
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