No
final do mês de julho de 2001 foi
realizado em Salvador, um torneio
internacional de vôlei feminino com equipes do Brasil, Argentina, Itália e Japão. Compareci na abertura dos jogos,
sendo recepcionado na chegada do Balbininho,
por um grupo de jovens que oferecia uma camisa para uso dentro do ginásio, como
membro da torcida organizada pelo patrocinador do evento. Ali mesmo retirei a
camisa que estava usando e coloquei a que me foi oferecida. Entre os jovens da
recepção no ginásio notei que um deles me olhava com certa insistência como se
fosse alguém que me conhecesse ou estivesse espantado com a minha presença em
meio a uma platéia, predominantemente, jovem. Fui ao bar tomar uma cerveja e já
no balcão, para minha surpresa, fui acompanhado e abordado pelo tal jovem.
Dizendo-se trabalhar para uma agência de publicidade, pediu desculpas pela
maneira pouco convencional com que me olhava na entrada do ginásio e foi direto
ao assunto. Ele estava procurando uma pessoa exatamente com o meu perfil para
uma campanha publicitária: um senhor de bigode, alto, magro, de cabelos
grisalhos e boa aparência. Este último item deve ser creditado ao seu olho
clínico como profissional do meio ou na crença depositada nos milagres que os
artifícios das fotografias são capazes de realizar. Segundo ele era algo
simples, rápido e queira saber se eu topava.
Fiquei
de fazer uma consulta em casa, sabendo de antemão que Camila vibraria com a idéia e, que eu entraria em contato com ele
ou então que me procurasse através dos telefones que disponibilizei. Em resumo;
terça feira já estava sendo clicado pelo fotógrafo da agência, para uma amostra
preliminar ao cliente, cuja aprovação ou não daria prosseguimento às etapas
subseqüentes da criação da peça. Fui aprovado sem qualquer restrição pelo
rigoroso cliente, segundo me informaram, com a exigência de que fosse
fotografado com a mesma camisa utilizada naquela foto de apresentação.
Quarta
feira já estava no estúdio com uma jovem de uns 20 anos que representaria minha
filha, abraçados por quase duas horas, para se chegar ao nível de envolvimento
afetivo exigido pelo diretor de criação e demais membros da equipe da agência
de publicidade presentes ao estúdio. Só então vim saber que o meu ingresso no
mundo publicitário se daria através do Cemitério
Jardim da Saudade, algo como, fui começar pelo fim. Bati na madeira três
vezes e entreguei o corpo e a alma ao Senhor,
aos orixás, ao velho rezador do Sodré.
A peça publicitária seria veiculada em jornais locais, encartes e em “bus-door”
(traseira de ônibus), com a utilização dessa foto que tiramos.
Paguei
este mico na traseira dos ônibus de Massaranduba, Itapuã, Cabula, Barra Avenida
ou Sussuarana etc, tonto de
tanto rodar pelas ruas esburacadas desta cidade. Mas, que seja pela arte. Após
a assinatura do contrato que fizemos com o cliente, a nossa imagem através
desta peça, poderá ser utilizada publicamente em vários tipos de mídias, como
jornais, “out door”, painéis fixos ou móveis, entre outras. A grana que rolou
desta parada, foi pouca, muito pouca, mas o suficiente para instaurar uma
disputa doméstica em torno do meu cachê. Todo mundo queira uma ponta de meu
trabalho artístico, numa demonstração inequívoca da indigência que é fazer arte
neste país de amadores.
Este
trabalho deu inicio a uma sucessão (não de sucesso, mas foi como se fosse) de
trabalhos, agora com imagens em movimentos como o que fiz para a Globo FM e para a ADEMI, cujas cópias consegui, muito tempo depois, através de alguma
amizade com o pessoal das agencias de publicidade, bem como a campanha do Shopping Barra para o Dia dos namorados de 2006., em breve na tela.
Foto: Ilustrativa, enquanto aguardo cópia original "scaneada".
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