O Papa
Bento XVI em seu livro “A infância
de Jesus”, segundo os que leram, dá a entender que os animais não visitaram
o menino Jesus como parece dizer a
encenação do presépio natalino, uma representação secular de seu nascimento. A
ser verdade tal afirmativa, construída provavelmente após estudos e pesquisas
profundas do período, ela se revela para a comunidade cristã e católica de uma
inutilidade franciscana, já que nada mais inocente e puro que a simbologia de
animais em visita a manjedoura onde teria nascido o filho de Deus. Vai-se de encontro a uma tradição
cristã que nada tem de blasfema ou desrespeitosa com os dogmas católicos. O sumo
pontífice talvez pudesse ter dedicado o seu tempo em estudos mais
significativos para o estabelecimento de uma verdade religiosa, que esta
preocupação em negar a existência de uma prosaica romaria animal em estado de
visitação ao enviado do Espírito Santo.
Blasfema pode ser considerada uma literatura
que prospera no mundo intelectual de pesquisadores em que escritores americanos
e irlandeses, por exemplo, recentemente colocaram em cheque as figuras centrais
da literatura cristã, como Lázaro e Maria, a mãe de Deus. O milagre da ressurreição de Lázaro é visto nos textos bíblicos até ele ganhar um novo sopro de
vida, sua existência daí em diante é esquecida ou ignorada, mas não para o
escritor e pregador cristão C.S.Lewis
que retrata Lázaro, em sua nova
vida, como um ser amargo e uma figura trágica sem saber o que fazer com esta
nova oportunidade de existir. Fato aliás que Maria, segundo o escritor irlandês Colm Tóibin, nega ter existido, a ressurreição, que tudo não
passava de milagres propagados por uma turba fanática, verdadeiros “marginais”,
como são tratados por ela os apóstolos seguidores de seu filho. Maria sempre recusou este destino que deram
ao seu filho, uma criança educada até ser tragada pela histeria das massas e
ter sobre si o peso das autoridades romanas.
O artigo de João Pereira Coutinho na Folha
do mês passado levanta estas questões bem mais relevantes, ainda que discutíveis,
que preocupações otárias com a visita de vários animais ao local do nascimento
de Jesus, conforme uma cena secular
retratada ao longo de tantos e tantos anos. As pesquisas da maior autoridade do
mundo católico tiveram pelo menos uma finalidade, uma serventia, determinar a
inadequação da expressão popular “vaca de presépio”. Se não havia vaca, a
expressão deixa de fazer sentido, se é que havia algum.
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