Para alguém que escrevesse este verso, como o
da canção Solidão, poderia muito bem
ser visto como um ser triste, amargo, feio, depressivo, traído e na mesma linha de
outros encontrados em músicas como Fim
de caso, Ternura Antiga ou Castigo, já que seguem a mesma pegada nostálgica
e solitária. Nada mais errado. A autoria dos versos e das canções é de Dolores Duran, morta aos 29 anos vítima
de infarto, tendo como legado de sua breve existência menos de 40 músicas,
embora a maioria ou a sua totalidade ocupe o imaginário popular, às vezes sem
saber quem é a sua autora.
O livro e trabalho de pesquisa e garimpagem do
jornalista Rodrigo Faour, Dolores Duran – A noite e as canções de uma
mulher fascinante, desmonta este mito de tristeza, apresentando Dolores como alguém que tomou todas,
namorou todos, disse todos os palavrões, era risonha, vaidosa, poliglota, culta
e politizada. Mesma sabendo da sua condição de cardíaca, Dolores nunca deixou a noite, os amigos, as farras nem a capacidade
de criar belas canções como A noite de
meu bem, Ideias erradas, Olha o tempo passando, Pela rua, Não me culpes
entre outras.
Com Tom
Jobim, com quem compôs algumas poucas canções a música de Dolores Duran conheceu o sol, a
luminosidade, a proximidade com a sua maneira de ser, como em Estrada do sol (é de manhã, vejo os
pingos da chuva que ontem caiu/ainda estão a brilhar) embora mantivesse a essência
do samba canção que era mesmo este aparente baixo astral, este ar “deprê” como
em Por causa de você, Se é por falta de
adeus, em que as melodias do futuro bossanovista casam com perfeição aos
versos de Dolores, que nos deixou tão prematuramente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário