quarta-feira, 10 de julho de 2013

Saramandaia - 1976


A primeira versão de Saramandaia foi ao ar no segundo semestre de 1976, chamando a atenção e ganhando a simpatia de uma audiência cativa através de personagens pouco convencionais, mas originais e engraçados, que os primeiros acordes da canção do cearense Ednardo, o Pavão Misterioso, sinalizava que o caminho a seguir era o de casa, para não perder o capítulo daquele dia. O escritor e dramaturgo Dias Gomes, autor da trama, que já havia tido em seu encalço os rigores da censura dos ditadores de então com a sua, também novela global, Roque Santeiro, resolveu embaralhar os olhos censores partindo para alegoria política com referência ao “realismo fantástico” que predominava na literatura latino-americana da época e daí em diante, haja extravagância.

A realização de plebiscito para a troca de nome de uma cidade gaúcha denominada “Não me toque” (fico a imaginar o inferno astral que os “nãometoquenses” viveram, por terem nascido lá) foi o mote que Dias Gomes precisava para montar o seu caldeirão, a partir de uma cidadizinha fictícia do interior da Bahia, “Bole Bole”, às voltas com um plebiscito também para mudar de nome e se chamar Saramandaia. Duas famílias tradicionais da cidade se colocavam em campos opostos quanto à troca do nome, fazendo com que tradicionalistas e mundancistas se envolvessem em desastradas tentativas de fazer vitoriosa sua tese a respeito da denominação que deveria prevalecer para a cidade.

Ao lado desta querela politica vão desfilando esquisitices como personagens que possuem asas; outro que solta formigas pelo nariz; Dona Redonda que pode explodir de tanto comer; emocionado outro ameaça cuspir o coração; uma mulher que excitada queima tudo em volta; O Professor Aristóbulo que vira lobisomem e há tempos não dorme enfim, é uma procissão de tipos estranhos que a mente brilhante de Dias Gomes pôs em um de seus inesquecíveis trabalhos para a televisão.

Para dar vida a esta fauna estranha e simpática Saramandaia teve à disposição grandes atores como Juca de Oliveira, Castro Gonzaga, Dina Sfat, Heloisa Mafalda, Rafael de Carvalho, Sônia Braga, Wilza Carla, Yoná Magalhães, que infelizmente alguns deles já não estão mais entre nós, mas se fizeram presentes na pele de personagens marcantes em carreiras vitoriosas. A nova versão que a TV Globo colocou no ar em junho deste ano, ainda não pude assistir, por não conseguir conciliar meu sono com o horário de exibição da minissérie, às 23 horas. Mas, por certo terei à disposição a cópia em DVD, encontrável em breve, nas boas barracas do ramo.
 
Foto: Novela da Globo-1976 (Juca de Oliveira)

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