quarta-feira, 7 de maio de 2014

Alô? Desculpe, foi engano.

Quando se fala no barulho reinante das grandes cidades ele era circunscrito aos veículos, aos carros de som em época de campanhas eleitorais, ao rádio de pilha, os camelôs e o falar alto característico de grande parte da população brasileira, além dos trios elétricos em época de carnaval. Não há na constatação qualquer pretensão antropológica, qualquer vestígio sociológico, até porque me falta o instrumental necessário para este fim, mas mera observação de quem também às vezes se esgoela para ser ouvido tal o barulho das ruas, dos bares, estádios, da concorrência com os carros e suas potentes aparelhagens de som, das conversas nos celulares etc. 

O celular, é aqui que queria chegar para diagnosticar a saudade do silêncio perdido, da paz esquecida nos ônibus urbanos e intermunicipais, nos consultórios médicos, filas de banco, restaurantes, salas de espera de repartições públicas, cartórios enfim, onde haja uma pessoa e um celular, e sempre há, haverá algo a ser dito e alguém para ouvir.

São mais de 20 anos que o celular habita entre nós e até hoje, mal sei atender e não vejo nisto qualquer isenção de culpa, pois o pouco que sei usar, por incompetência, também se resume a ouvir e falar o que alguém ao lado não tem o menor interesse em ouvir, mas ouvirá. Brigas de casais, fim de namoro, palavrões, juras de amor, encontro marcados (e desmarcados), o cuidado com a vizinha, o seu filho maconheiro, o médico carniceiro, o vereador que nega, o prefeito que trai, o gás que não chega, o feijão que queimou, nada escapa em ser comunicado e ouvido aos gritos por quem gostaria de estar no Caminho de Compostela, Nepal ou no Himalaia, mas que na verdade está na linha do fogo cruzado no Iraque, na Favela do Alemão ou no Bairro da Paz, que nega o nome. 

O inventor do celular é ao mesmo tempo "o deus e o diabo" da tecnologia, amado e odiado, mas impossível viver sem ele. 

Foto: Os Primeiros Celulares

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