Quando se fala no barulho reinante das grandes
cidades ele era circunscrito aos veículos, aos carros de som em época de
campanhas eleitorais, ao rádio de pilha, os camelôs e o falar alto característico
de grande parte da população brasileira, além dos trios elétricos em época de
carnaval. Não há na constatação qualquer pretensão antropológica, qualquer vestígio
sociológico, até porque me falta o instrumental necessário para este fim, mas
mera observação de quem também às vezes se esgoela para ser ouvido tal o
barulho das ruas, dos bares, estádios, da concorrência com os carros e suas
potentes aparelhagens de som, das conversas nos celulares etc.
O celular, é
aqui que queria chegar para diagnosticar a saudade do silêncio perdido, da paz
esquecida nos ônibus urbanos e intermunicipais, nos consultórios médicos, filas
de banco, restaurantes, salas de espera de repartições públicas, cartórios
enfim, onde haja uma pessoa e um celular, e sempre há, haverá algo a ser dito e
alguém para ouvir.
São mais de 20 anos que o celular habita entre
nós e até hoje, mal sei atender e não vejo nisto qualquer isenção de culpa,
pois o pouco que sei usar, por incompetência, também se resume a ouvir e falar
o que alguém ao lado não tem o menor interesse em ouvir, mas ouvirá. Brigas de
casais, fim de namoro, palavrões, juras de amor, encontro marcados (e
desmarcados), o cuidado com a vizinha, o seu filho maconheiro, o médico
carniceiro, o vereador que nega, o prefeito que trai, o gás que não chega, o
feijão que queimou, nada escapa em ser comunicado e ouvido aos gritos por quem
gostaria de estar no Caminho de
Compostela, Nepal ou no Himalaia,
mas que na verdade está na linha do fogo cruzado no Iraque, na Favela do Alemão
ou no Bairro da Paz, que nega o
nome.
O inventor do celular é ao mesmo tempo "o deus e o diabo" da tecnologia,
amado e odiado, mas impossível viver sem ele.
Foto: Os Primeiros Celulares
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