quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Seguindo em frente, sem nada a fazer


Dos discos infantis que povoaram o universo de nossas crianças, além dos detestáveis e deformadores discos de Xuxa, lembro dos Saltimbancos, um musical de compositores italianos que recebeu uma adaptação bem bacana de Chico Buarque e convidados e da Casa de Brinquedo de Toquinho, este em parceria com seu irmão. Discos infantis que cabiam muito bem ao gosto dos adultos e, que talvez por esta razão, as nossas crianças, estavam bem mais à vontade aos requebros e a sensualidade precoce despertadas pelos bagulhos de Xuxa.

Da Casa de Brinquedo guardo a canção O caderno, interprertada por Chico que falava da relação da criança com seu caderno, amigo e confidente que lhe pedia quando chegarem os seus primeiros raios de mulher, “não me abandone em um canto qualquer”. Era esta mesmo a leitura da singela canção, mas que muito termpo depois, por alguma crise existencial ou por alguma estranha sensação de culpa e medo do abandono, cada vez que ouvia chorava aos soluços ou silenciosamente, onde estivesse, sentia uma lágrima correr a face. 

Fiquei curado do medo de que elas, as nossas crianças, pudessem e podem algum dia me deixar “num canto qualquer”, por mais pavorosa que seja esta ideia, mesmo inexorável no ciclo da vida, sem que isto venha significar abandono ou desprezo. Continuo achando a canção bonita, tocante, de letra poética e hoje me faz rir, ao invés de chorar, pensando nos netos que estão chegando e que por certo virão. Só o tempo dirá, certo de ser “eu que vou seguir você/do primeiro rabisco/até o bê-a-bá/em todos os desenhos/coloridos vou estar”.

Foto: Ilustrativa

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