São vários os exemplos da violência contra a
mulher na música brasileira, em especial nos sambas das décadas de 30 e 40 quando o machismo se apresentava com toda a sua fúria e, que era
a característica de uma sociedade em que a mulher era submissa, recebia ordens
e obedecia. Aí daquela que não seguisse à risca os mandamentos de seu homem,
senhor e patrão e, muitas saltavam fora da linha, já que nem todas eram “Amélia,
a mulher de verdade”, até pelo contrário, o que se configurava a instauração de
gestos violentos quando não depreciativos.
É emblemático os versos de “Minha nega na janela” de Germano Matias e Doca, que descreve
expressões racistas e comportamento de psicopata em versos como “êta nega tu é
feia/que parece uma macaquinha/olhei pra ela disse/ vai prá cozinha/dei um
murro nela/e joguei ela dentro da pia/quem foi que disse que ela não cabia?”. Surpreende
que Gil tenha gravado esta “pérola”
num disco dos anos 70 que homenageava o sambista Germano Matias em um disco chamado “antologia do samba-choro”,
talvez por ser uma antologia e uma homenagem ao compositor paulista que não era
um liquidificador de mulheres.
Como também causa surpresa o samba de João Bosco com letra do poeta do
cotidiano carioca Aldir Blanc, o
também violento “Gol anulado” do
disco Galos de Briga um dos
primeiros do compositor mineiro, no final dos anos 70. Versos como “quando você
gritou mengo/no primeiro gol do Zico/tirei sem pensar o cinto/e bati até cansar”
são incompatíveis a um intelectual, mestre das letras e dos versos neste
disco em que todas as letras são suas, Aldir incorpora este espírito violento e
agressivo que predominou em décadas passadas em nossa música, pela malandragem carioca.
Não quero com
isso dizer que aqueles compositores como Lupicínio
Rodrigues, em Judiaria, fossem
caso de polícia, era mesmo reflexo de uma sociedade que ameaçava se transformar.
Mas, foi uma longa jornada até chegarmos a Lei
Maria da Penha.
Disco: João Bosco
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