quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Até aqui, gastamos 5 horas de relógio.

A expressão faz parte, como tantas outras, de um modo de falar próprio do baiano, da capital, que não se limita a guetos, subúrbios, periferia da cidade, mas a maioria de seus habitantes, independente da classe ou do grau de instrução e posição social. Convivi na faculdade, locais de trabalho, amigos de prosa e de papo que utilizavam a expressão com uma naturalidade que nunca absorvi. Sempre que ouço, imagino que as horas também possam ser contadas através da ampulheta, da bússola, da mandala, do cruzeiro do sul, da estrela Dalva enfim de qualquer sinal da natureza ou de criações humanas dos primórdios da civilização. Sempre relutei em aceitar ou acreditar em horas que não fossem pontuadas pelo relógio, ainda que paraguaio como estes que enfeitam e adornam os tabuleiros dos ambulantes e camelôs.

Por outro lado, outras expressões e palavras fazem parte do meu vocabulário de uso escrito e falado que faz a festa e causa espanto a quem de outros “brasis” nos visita e com quem mantemos qualquer tipo de conversação. Foi esta curiosidade e porque não, estupefação, que levou o jornalista carioca, mas já abaianado por adoção, Nivaldo Lariú, a catalogar estas palavras e expressões de uma língua, talvez um dialeto baiano, em uma publicação da larga aceitação e sucesso, por aqui ou longe daqui, do seu Dicionário Baianês. Conheci o dicionário nos anos 80, através dos amigos Edilson/Mirinha que viram ali a minha cara e por quem demonstraria grande interesse literário e humorístico. Claro que sim, ainda hoje. Talvez seja uma das Lembranças da Bahia mais vendidas nestes locais que comercializam suvenires da cidade, seja no Mercado Modelo, Pelourinho, Aeroporto, Livrarias etc. 

Uma das características desta linguagem baiana é o uso de um palavrão para exprimir a nossa aprovação, elogio e mesmo crítica  a um clube de futebol, uma banda de música, um artista, uma festa, uma celebração qualquer. Assim como, o Vitória montou um time da p(*), do mesmo modo que o Bahia é uma p(*), o que para o caso requer também, além da afirmação, uma entonação na voz para expressar o prazer ou a indignação. Palavras ou expressões como: A migué, água-dura, bota prá fudê, armengue, estrompado, empata-foda, Vixe Maria, a culhão, zorra, grade, espanta-nigrinha, galera do mal, inhaca, e por aí vai, curioso e divertido. Talvez não estejam no Aurélio ou no Houaiss, mas é certo estarão no Dicionário Baianês do Nivaldo Lariú. “Fala baiano, no seu jeito de falar”.

Ilustração: W.Barroso 

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