quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Um esperanto musical


Há músicas que nos acompanham desde a nossa infância e, que pela sua execução em qualquer parte do mundo ou em grande parte dele, passam a fazer parte de um inconsciente coletivo musical, que nos aproxima e nos absorve com uma naturalidade tal, como se mantivéssemos com seu autor uma relação familiar ou de amigo. O papo ou a teorização pode ter ido além do pretendido, mas é como se, por exemplo, Happy birthday to you tivesse sido composta no quintal de nossas casas, quando “ainda havia galos, noites e quintais” e que ninguém sabe a autoria e não demonstra qualquer interesse em saber, a música em si, se basta, e estamos conversados e parabenizados.

Cantarolar as frases iniciais de Volare, oh,oh/Cantare oh,oh,oh,oh nos dá e deixa a impressão de sabermos algum vocábulo em italiano mesmo que jamais tenhamos ido à terra de Domenico Modugno, já que o Volare é o que interessa, aqui ou em Tóquio. Ou preparar o dó de peito para a frase final de My way ou o mais próximo possível de “and did it my way” com toda a carga vocal de que formos capazes pode nos parecer fazendo dueto com Frank Sinatra ou Elvis, na certeza de que seremos compreendidos em Teresina ou Istambul, sem apedrejamento. Nossos hermanos argentinos não verão qualquer ultraje à memória de Gardel se atacarmos de El dia em que me queiras, depois do terceiro ou quarto copo, até porque não cometeremos o desatino de apresentarmos Agnaldo Timóteo ou Nelson Gonçalves como parelho para um puro sangue como o Cambalache, diferentemente da comparação entre Pelé e Maradona.

São músicas do mundo embora tenha pai e nacionalidade, assim como o Hynme a l'amour e La vie em rose de Edith Piaf; Ne me quite pás na voz de Jacques Brel ou na interpretação dilacerada de nossa Maysa; Moonlight Serenade com a orquestra de Glenn Miller; a garota de ipanema de Cuba, Guatanamera, além da nossa própria composta por Tom e Vinicius. São muitos os exemplos desta universalidade da música popular, uma espécie de esperanto musical, como um solfejo sem a identificação das notas, mas apenas a melodia já nos pondo como cidadão do mundo, no mundo da música, dos sons.

Foto: Edith Piaf

2 comentários:

  1. Cheguei a este site por acaso, numa dessas pesquisas falidas nas quais o Google nos leva aonde não imaginávamos.

    Gostei do artigo, mas devo dizer que eu sou argentino e durante a maior parta da minha vida acreditei e disse que o tango devia ser cantado apenas por homens da região do Prata, ficando subenteendido que na nossa variação do espanhol. Mas há cinco anos comecei a aprender português, e entre outras alegrias que me deu a última flor do Lácio, as digníssimas interpretações de famosos tangos que nos deixaram Dalva de Oliveira e Nelson Gonçalves me fizeram comprovar quanto errado eu estava.

    O negócio de Pelé e Maradona vamos deixar para outra ocaisão.

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