quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Quando o muro separa, uma ponte une.

A morte de Magro do MPB4 me pegou triste, em uma semana que se iniciava sob o manto da truculência policial no distrito do Porto Feliz e da possível tensão que a campanha política da cidade alegre pode, perigosamente, enveredar, tal o acirramento de ânimos que deverão dominar a campanha. Ou nada disso, apenas “dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”, alem do conhecimento do fato de que a saída de Ruy, o Ruy Farias, em 2004, não foi algo natural, como se imaginava. A reunião de quatro jovens colegas universitários de Niterói, no começo dos anos 60, não seria eterna como não costumam ser as relações de bandas e grupos do meio artístico e o desmoronamento do projeto acaba sendo inevitável. A eleição de Miltinho como o produtor musical e empresário do grupo não agradou a Ruy, que preterido preferiu arrumar seus panos e cantar em outra freguesia, como se fosse possível, naquela altura do campeonato.

Ruy era aquele baixinho cabeçudo, barbudo e abusado, a primeira voz do grupo, em que versos como “quando o muro separa, uma ponte UNE”, de Pesadelo (do LP Cicatrizes), era como se fosse um recado aos algozes de plantão. O verbo unir de une, além de significar união contra a força era também uma evocação a saudosa representação estudantil, cuja sede na Praia do Flamengo foi metralhada e incendiada pela covardia militar. O Ruy era a própria indignação do grupo, além de ser a figura mais carismática e brincalhona do MPB4.

O registro da marca MPB4, em nome de um dos integrantes do grupo, Aquiles, Magro e Miltinho, logo após a saída do Ruy, não foi um gesto honesto, prá se dizer o mínimo. A atitude pouco profissional e desrespeitosa gerou, com razão, pendências judiciais ainda não resolvidas ou em parte equacionadas, já que cada vez que forem utilizados fonogramas anteriores a sua saída, em show, direitos autorais ou qualquer outra forma de uso da voz e da imagem, comercialmente, lhe é devido 20% do ganho decorrente deste uso.

“Pois aí está. Hoje, muito infeliz, e acuado desta maneira, não vejo outra saída, senão, aos 66 anos, me ver impelido a este perigoso e apavorante salto no escuro. Prevejo que nessa idade vai ser muito difícil a minha subsistência; assim, penso demandar alguma parcela dos ganhos gerados por esta entidade, que ajudei a construir durante quase dois terços da minha existência. É isso aí, não dá mais, estejam livres”. (Trecho da carta de Ruy, comunicando aos que ficaram sua saída do MPB4).

Foto: MPB4 (Miltinho, Aquiles, Ruy e Magro)

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