Para
não fugir ao hábito de interferirmos em tudo aquilo que, como aculturados,
vamos incorporando de outras civilizações e costumes, já metemos a nossa
colher, também, nos festejos natalinos. Qualquer celebração européia que por
razões diversas de colonização passamos a festejar, logo acrescentamos uma dose
de nossa antropofagia cultural. Foi assim com o carnaval, cuja origem não se
sabe ao certo, mas se admite tendo início na Grécia, em louvor a fertilidade do solo e da colheita. Depois os
romanos introduziram a bebida e o sexo - algo que nós fatalmente acrescentaríamos
- tornando-se assim a “festa da carne” e com alta dose de licenciosidade. Por
aqui, foi mantida a licenciosidade, acrescida dos sambas, escolas, bicheiros,
bichas, trios elétricos e artistas da Globo.
Quanto
ao Natal, provavelmente, as nossas
comemorações seriam mais entusiásticas se por aqui nevasse. Não vale aquela
poeira de neve que cai nos estados do sul, até porque ela acontece em outro
período que não o natalino. Há certa frustração por não termos neve. É
revelador o fato de colocarmos algodão nos galhos das árvores de Natal para caracterizar a neve. Ou
decorarmos a mesa com frutos que não sabemos sequer degustar a exemplo das nozes, avelãs, tâmaras, damascos ou amoras. O problema é que não conseguimos dar a esta festa de origem
também européia, pelo menos como se comemora hoje, um toque, um sinal de nossa atmosfera festeira e transgressora
junto a estes costumes do velho mundo. As tentativas em abrasileirar a ceia
natalina ficaram em experimentos culinários, no mínimo, esquisitos. São
exemplos, a “fatia de parida” - rodelas de pão dormido, recoberto com ovos em
neve e fritas na manteiga; o enchimento da carcaça do peru assado, com
farofa; bolo de aipim, cuscuz paulista, torta de maturi etc.
Mas
nossa contribuição cultural aos festejos natalinos é mesmo o especial de Roberto Carlos. Em volta da mesa,
frente à TV, marejamos os olhos,
suspiramos enlevados, parecendo levitar tal sublimação, ante a cantilena
religiosa do Rei e sua exaurida
exposição dos “detalhes tão pequenos de nós dois”. Este ano, não será diferente
em que pese os avanços e recuos do Rei, “procurando saber” se as biografias devem
ser ou não autorizadas.
Foto: Árvore de Natal brasileira (nordestina)
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