terça-feira, 19 de novembro de 2013

Arrombando a festa natalina!

Para não fugir ao hábito de interferirmos em tudo aquilo que, como aculturados, vamos incorporando de outras civilizações e costumes, já metemos a nossa colher, também, nos festejos natalinos. Qualquer celebração européia que por razões diversas de colonização passamos a festejar, logo acrescentamos uma dose de nossa antropofagia cultural. Foi assim com o carnaval, cuja origem não se sabe ao certo, mas se admite tendo início na Grécia, em louvor a fertilidade do solo e da colheita. Depois os romanos introduziram a bebida e o sexo - algo que nós fatalmente acrescentaríamos - tornando-se assim a “festa da carne” e com alta dose de licenciosidade. Por aqui, foi mantida a licenciosidade, acrescida dos sambas, escolas, bicheiros, bichas, trios elétricos e artistas da Globo.
         
Quanto ao Natal, provavelmente, as nossas comemorações seriam mais entusiásticas se por aqui nevasse. Não vale aquela poeira de neve que cai nos estados do sul, até porque ela acontece em outro período que não o natalino. Há certa frustração por não termos neve. É revelador o fato de colocarmos algodão nos galhos das árvores de Natal para caracterizar a neve. Ou decorarmos a mesa com frutos que não sabemos sequer degustar a exemplo das nozes, avelãs, tâmaras, damascos ou amoras. O problema é que não conseguimos dar a esta festa de origem também européia, pelo menos como se comemora hoje, um toque, um sinal de nossa atmosfera festeira e transgressora junto a estes costumes do velho mundo. As tentativas em abrasileirar a ceia natalina ficaram em experimentos culinários, no mínimo, esquisitos. São exemplos, a “fatia de parida” - rodelas de pão dormido, recoberto com ovos em neve e fritas na manteiga; o enchimento da carcaça do peru assado, com farofa; bolo de aipim, cuscuz paulista, torta de maturi etc.

Mas nossa contribuição cultural aos festejos natalinos é mesmo o especial de Roberto Carlos. Em volta da mesa, frente à TV, marejamos os olhos, suspiramos enlevados, parecendo levitar tal sublimação, ante a cantilena religiosa do Rei e sua exaurida exposição dos “detalhes tão pequenos de nós dois”. Este ano, não será diferente em que pese os avanços e recuos do Rei, “procurando saber” se as biografias devem ser ou não autorizadas.

Foto: Árvore de Natal brasileira (nordestina)

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