segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Prata é ouro.

O que já é corriqueiro, o Antonio Prata em sua coluna, deste domingo, na Folha, nos leva de volta a um passado bom, que cada um de nós viaja em reminiscências guardadas no lado esquerdo do peito aos pulos e em soluços. Este derramamento de emoção foi possível graças ao recebimento de um email, quase carta, de um destes amigos de farra e festa nos delírios e nos projetos da nossa mocidade, que o tempo afasta para sempre ou por esporádicas visitas ocasionais. Emails que substituíram as cartas, este objeto de comunicação fora de uso e do conhecimento das novas gerações. 

Fui um carteiro contumaz, não entregador de correspondências, mas um escrevinhador de longas cartas a um amigo que por contingências estudantis partiu prá muito longe de nós. Eram cartas manuscritas em 08 ou 10 folhas de blocos, falando de saudade da terra, dos amigos, da mudança de hábitos e ares impostos pela cidade que nos acolheu, de músicas, de discos e livros, de política, de amores e de como éramos bons em um mundo mau. Os telefonemas nos finais das tarde dos domingos eram igualmente longos e repletos de recomendações sobre projetos que não se consumavam, mas que cretinamente jurava fidelidade e disposição para a sua viabilidade, sem efetivação.  

As cartas foram minguando em tamanho e em periodicidade até o seu total desaparecimento, quando raiou no horizonte a web e os emails. Eles voltaram a trazer a intensidade perdida, mas com uma economia nos textos até a sua total ausência. Sem cartas, telefonemas, sem emails somos uns velhos estranhos, desconhecidos, cheios de dedos e reticências em uma amizade que não fomos capazes de preservar, até voltarmos a viver e admitir a nossa solidão cotidiana, o único estágio possível para este silêncio e indiferença que nos iguala e nos aprisiona.  

Foto: Ilustrativa

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