O que já é corriqueiro, o Antonio Prata em sua coluna, deste domingo, na Folha, nos leva de volta a um passado bom, que cada um de nós viaja
em reminiscências guardadas no lado esquerdo do peito aos pulos e em soluços.
Este derramamento de emoção foi possível graças ao recebimento de um email, quase carta, de um destes amigos
de farra e festa nos delírios e nos projetos da nossa mocidade, que o tempo afasta
para sempre ou por esporádicas visitas ocasionais. Emails que substituíram as cartas, este objeto de comunicação fora
de uso e do conhecimento das novas gerações.
Fui um carteiro contumaz, não entregador de correspondências,
mas um escrevinhador de longas cartas a um amigo que por contingências estudantis
partiu prá muito longe de nós. Eram cartas manuscritas em 08 ou 10 folhas de
blocos, falando de saudade da terra, dos amigos, da mudança de hábitos e ares
impostos pela cidade que nos acolheu, de músicas, de discos e livros, de política,
de amores e de como éramos bons em um mundo mau. Os telefonemas nos finais das tarde
dos domingos eram igualmente longos e repletos de recomendações sobre projetos
que não se consumavam, mas que cretinamente jurava fidelidade e disposição para
a sua viabilidade, sem efetivação.
As cartas
foram minguando em tamanho e em periodicidade até o seu total desaparecimento,
quando raiou no horizonte a web e os emails. Eles voltaram a trazer a
intensidade perdida, mas com uma economia nos textos até a sua total ausência.
Sem cartas, telefonemas, sem emails somos uns velhos estranhos, desconhecidos,
cheios de dedos e reticências em uma amizade que não fomos capazes de preservar,
até voltarmos a viver e admitir a nossa solidão cotidiana, o único estágio possível
para este silêncio e indiferença que nos iguala e nos aprisiona.
Foto: Ilustrativa
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