domingo, 14 de setembro de 2014

A bola às vezes é quadrada

Ainda que tenha mudado com o passar dos anos, a característica do mundo futebolístico é marcada pela baixa escolaridade de seus atletas, sendo a sua grande maioria oriunda dos extratos mais carentes da sociedade. A existência no meio de jogadores excepcionais e intelectualmente acima da média como Zico, Junior, Raí, Sócrates, Falcão, Leonardo, Rogério Ceni entre alguns outros servem prá justificar a regra. 

Basta notar que o primeiro lampejo de craque despertado em um aspirante à carreira é suficiente para um corte de cabelo extravagante, em geral ridículo, pintura igualmente medonha, um par de brincos, um carrão, enquanto a mãe e os irmãos (o pai, há muito se escafedeu) se amontoam em um barraco na periferia das cidades.

O Juca Kfouri conta uma história interessante acerca do jogador Garrincha, o anjo de pernas tortas, cuja genialidade nos campos de futebol não guardava qualquer correspondência com o cidadão, Mané Garrincha, cujo comportamento era um misto de infantilidade com debilidade mental. Ao ser submetido a um teste psicológico, por um terapeuta da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos – CMTC de São Paulo, em 1958, nos preparativos da seleção para o Mundial daquele ano, Garrincha chutou alto o “teste do borrão de tinta” ou “das manchas”. Ao ser confrontado com uma daquelas manchas, pediram para que ele dissesse o que ela representava; qual uma criança não titubeou: “a cabeçona de doutor Paulo”, o chefe da delegação nacional. 

Outra vez, ao explicar um desenho que ele mesmo tinha feito, um homem pequeno de cabeça grande, ele disse tratar-se de “Quarentinha, meu companheiro no Botafogo”. Mas, o melhor viria em sua demora em fazer uma grande jogada ou mesmo um gol, na partida amistosa da seleção contra o time italiano da Fiorentina, antes da estreia na Copa do Mundo da Suécia. Ao ser questionado sobre seu desempenho em campo ele não mediu as palavras: “estava apenas esperando que o goleiro abrisse as pernas”. Inesquecível Garrincha, a alegria do povo.

Foto: Garrincha

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