segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Essas bárbaras guitarras elétricas

Um dos episódios mais curiosos da nossa música e, parte do documentário Uma noite em 67, que cobre o encerramento do III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, narra a realização de uma desastrada passeata contra as guitarras elétricas. Não se sabe qual a motivação deste frente ampla em defesa da música brasileira, que pelo olhar estrábico e xenófobo de seus organizadores e participantes estava na iminência de ser estuprada pelos sintetizadores e pela eletrificação do som. Uma bobagem, contra a qual Caetano, Gil e os tropicalistas se insurgiram e trataram de brandir suas guitarras frente à corrente do atraso e da ingênua trincheira pela salvação das glórias nacionais.

Que Elis, Edu Lobo, Sérgio Ricardo, Geraldo Vandré, Zé Keti, Jair Rodrigues e outros mais protestantes tenham tido, não se sabe delegado por quem, o pretenso encargo de velar pela pureza da música brasileira, era compreensível, mas não menos famigerado. Mas, que Gil tenha seguido esta procissão, logo ele que já estava com os ouvidos atentos a Beatles, Jimi Hendrix, Jefferson Airplane, Rolling Stones e com ideias modernizadoras para a nossa música, tenha participado daquela patacuada, causa estranheza. Dizem que ele foi atraído por Elis, por quem estava apaixonado e, estas coisas do coração quase sempre atropelam o bom senso e a razão. Bem fizeram Caetano e Nara que da janela de um quarto de hotel viram seus colegas desempenharem um papel de triste lembrança.  

Não se sabe se desiludido com Elis, o futuro tropiclista Gil, caiu de boca, neste mesmo ano, sobre as guitarras elétricas ao levar os Mutantes para dividir com ele a apresentação de Domingo no Parque em uma primorosa performance naquele festival, com arranjo antológico de Rogério Dupárt e conquistar o segundo lugar. Daí em diante a história se encarrega de não mais delimitar terrenos e sinalizar que nossa música estava enfim alforriada, sem amarras, sem sinto de castidade, com os pés na modernidade, como a Bossa Nova já tinha indicado o caminho. 

Fotos: Ilustrativas 

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