quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Cala a boca Pelé!

Se sobre o futebolista Pelé, não há palavras que não elogios para uma carreira brilhante e iluminada nos gramados daqui e do mundo, exceto para os argentinos, não ocorre o mesmo quanto ao cidadão Pelé, já que o mundo parece desabar cada vez que ele é solicitado a emitir uma opinião seja qual for o assunto. Aí então, o craque extraordinário vira um peladeiro de várzea, prá quem “da clavícula prá baixo é tudo canela” e suas opiniões são sempre rechaçadas quando não ridicularizadas, tal o despropósito, a falta de sintonia das palavras com uma realidade que talvez não lhe seja cara.  

Os movimentos negros sempre viram o Rei Pelé como um “preto de alma branca” tal o seu comportamento, a sua omissão quanto a condição social do negro em nosso país, que mascara um preconceito, uma discriminação que é nítida nas altas patentes militares, no clero, no judiciário, na política, na diplomacia. Mas, que é vergonhosamente escancarada nas favelas, nos presídios, nos subempregos, na mendicância, nas periferias das grandes cidades, nos serviços públicos etc.

A bola da vez foi o goleiro Aranha, do Santos, para quem, segundo o Rei Pelé, o atleta exagerou ao ter interrompido o jogo do Brasileiro, pelo fato de ter sido chamado de “macaco” por uma torcedora do Grêmio de Porto Alegre, em mais uma demonstração de injúria racista nos campos de futebol. Ele cita seu próprio exemplo, dizendo que se cada vez que foi chamado de “macaco” viesse paralisar uma partida, ele não teria jogado futebol. Pode até ser, mas por certo este tipo de ofensa não chegaria aos dias de hoje se a sua atitude, sua justa indignação se manifestasse de modo sempre contundente, eliminando dos estádios a infâmia do racismo e do desapreço ao ser humano. Cala a boca Pelé!   

Caricatura: Hamed Kabbara

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