Se sobre o futebolista Pelé, não há palavras que não elogios para uma carreira brilhante e
iluminada nos gramados daqui e do mundo, exceto para os argentinos, não
ocorre o mesmo quanto ao cidadão Pelé,
já que o mundo parece desabar cada vez que ele é solicitado a emitir uma opinião seja qual for o assunto. Aí então, o craque extraordinário vira um peladeiro de várzea, prá quem “da clavícula prá baixo é tudo canela”
e suas opiniões são sempre rechaçadas quando não ridicularizadas, tal o
despropósito, a falta de sintonia das palavras com uma realidade que talvez não
lhe seja cara.
Os movimentos negros sempre viram o Rei Pelé como um “preto de alma branca”
tal o seu comportamento, a sua omissão quanto a condição social do negro em
nosso país, que mascara um preconceito, uma discriminação que é nítida nas
altas patentes militares, no clero, no judiciário, na política, na diplomacia.
Mas, que é vergonhosamente escancarada nas favelas, nos presídios, nos
subempregos, na mendicância, nas periferias das grandes cidades, nos serviços
públicos etc.
A bola da vez foi o goleiro Aranha, do Santos, para quem, segundo o Rei
Pelé, o atleta exagerou ao ter interrompido o jogo do Brasileiro, pelo fato de ter sido chamado de “macaco” por uma torcedora do Grêmio de Porto Alegre, em mais uma demonstração de injúria racista nos
campos de futebol. Ele cita seu próprio exemplo, dizendo que se cada vez que
foi chamado de “macaco” viesse paralisar uma partida, ele não teria jogado
futebol. Pode até ser, mas por certo este tipo de ofensa não chegaria aos dias
de hoje se a sua atitude, sua justa indignação se manifestasse de modo sempre contundente,
eliminando dos estádios a infâmia do racismo e do desapreço ao ser humano. Cala
a boca Pelé!
Caricatura: Hamed Kabbara
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