domingo, 14 de setembro de 2014

Questão de ordem, uma questão de desordem

Tanto tempo depois, mas só agora pude ouvir, ou melhor tentar ouvir, já que a estranheza, o espanto que provocou e ainda assusta a canção de Gil, no IV Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, a anárquica Questão de ordem, permanece. 

Como permanece a certeza de que tudo aquilo foi previamente combinado, premeditado, para se instaurar o "happening", a cartase, a esculhambação antifestival, a negação daquela feira competitiva e de “toda a imbecilidade que reina no país”, conforme Caetano em seu antológico discurso, em favor de Gil.

Depois da desclassificação da música de Gil, a Questão de ordem, foi a vez de Caetano e Os Mutantes apresentarem a sua não menos provocativa É proibido, proibir (“derrubar as prateleiras, as estantes, as estátuas, as vidraças, louças, livros sim/é proibido, proibir”). 

O cenário estava montado para o discurso de um Caetano possesso, transtornado, vaiado de modo inclemente, mas indignado em frases como “É essa juventude que diz que quer tomar o poder, se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos. Vocês não estão entendendo nada, nada. Vocês são iguais sabem a quem, sabem a quem, aqueles que foram ao Roda Viva e espancaram os atores. Por falar nisso, viva Cacilda Becker, viva Cacilda Becker; que juventude é essa. O júri é muito simpático, mas é incompetente. E aí júri, vocês não souberam classificar a melodia de Gil; Gil fundiu a cuca de vocês. É assim que eu quero ver”. O final da história é tristemente conhecido: a prisão e o exílio de Caetano e Gil.

Foto: Gil

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