Tanto tempo depois, mas só agora pude ouvir, ou
melhor tentar ouvir, já que a estranheza, o espanto que provocou e ainda
assusta a canção de Gil, no IV Festival da Música Popular Brasileira,
da TV Record, a anárquica Questão de ordem, permanece.
Como
permanece a certeza de que tudo aquilo foi previamente combinado, premeditado,
para se instaurar o "happening", a cartase, a esculhambação antifestival, a
negação daquela feira competitiva e de “toda a imbecilidade que reina no país”,
conforme Caetano em seu antológico
discurso, em favor de Gil.
Depois da desclassificação da música de Gil, a Questão de ordem, foi a vez de Caetano
e Os Mutantes apresentarem a sua não
menos provocativa É proibido, proibir
(“derrubar as prateleiras, as estantes, as estátuas, as vidraças, louças,
livros sim/é proibido, proibir”).
O cenário estava montado para o discurso de
um Caetano possesso, transtornado,
vaiado de modo inclemente, mas indignado em frases como “É essa juventude que
diz que quer tomar o poder, se vocês forem em política como são em estética,
estamos feitos. Vocês não estão entendendo nada, nada. Vocês são iguais sabem a
quem, sabem a quem, aqueles que foram ao Roda
Viva e espancaram os atores. Por falar nisso, viva Cacilda Becker, viva Cacilda
Becker; que juventude é essa. O júri é muito simpático, mas é incompetente.
E aí júri, vocês não souberam classificar a melodia de Gil; Gil fundiu a cuca
de vocês. É assim que eu quero ver”. O final da história é tristemente
conhecido: a prisão e o exílio de Caetano
e Gil.
Foto: Gil
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