quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A camarotização

Os camarotes se constituem, hoje, na mais nova praga segregacionista a espalhar entre os eventos recreativos, esportivos ou mesmos religiosos a sua fúria mercantilista aliado a ideia de separação de classes sociais e econômicas, quando não racistas. Quem conheceu o Carnaval de Salvador, por exemplo, e hoje transita pelo circuito Barra – Ondina entende com nitidez a função deletéria dos camarotes, que é separar uma gente branca e endinheirada ou endividada no cartão de crédito da patuleia parda, cheirando mal e mal vestida exposta à truculência policial, como a querer dizer qual é o seu lugar na parada.

Dos blocos de cordas, do mesmo Carnaval de Salvador, para o camarote foi um passo, já que as suas funções se equivalem na característica de separação de quem pode de quem apenas se sacode como na marchinha carnavalesca, do qual o bloco Camaleão é o exemplo mais bem acabado de subserviência e falta de vergonha, por alguns trocados. 

Com seus brancos “parmalat” rodeado de “cordeiros” (puxadores de cordas) que velam pela sua integridade, o Camaleão consegue sintetizar o "anti-carnaval", a festa que já foi de todos, hoje permanece como para alguns, mesmo que uns e outros ainda insistam em melar e encardir a passarela onde aquela gente estúpida, branca e triste finge brincar o Carnaval.

O filósofo americano Michael Sandel fala que estes camarotes vips são uma ameaça ao espírito democrático e ao ideal do bem comum, citando que eventos esportivos ou mesmos musicais que são manifestações públicas de uma momentânea integração social, desaparece com a segregação estimulada pela existência dos camarotes. Segundo ele “nos Estados Unidos as elites parecem desesperadas em não se misturar com os demais. Vida comum é saudável, e uma democracia vibrante precisa de lugares públicos que misturem diferentes classes sociais”. É isso! 

Foto: Camarotes

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