Entre as tantas boas iniciativas do Canal Brasil uma está sendo sempre reprisada, pela qualidade ou atendendo a espectadores, que é o programa Cantoras do Brasil,
em que jovens intérpretes visitam o repertório de artistas consagradas como cantoras
ou compositoras. Assim coube a jovem cantora Nina Beckar, e vocalista da Orquestra
Imperial, se debruçar sobre as canções de Dolores Duran com resultados surpreendentes para o produtor Zé Pedro, que não se conteve em
convidá-la para o registro em disco daquele projeto que recebeu o título
apropriado de Minha Dolores.
Ao falar em Dolores Duran, o ouvinte minimamente informado em música brasileira
logo se lembrará de Noite do meu bem,
Estrada do Sol, talvez Ternura
antiga e, nada mais que isso. Pois foi desse “nada mais que isso” que Nina norteou o seu trabalho, buscando
canções não muito gravadas e pouco conhecidas, mas que são representativas do
legado que Dolores nos deixou. São exemplos
significativos as suas parcerias com Billy
Blanco, Lúcio Alves, Flávio Cavalcanti, Antonio Maria, Ismael Silva tão logo trocou a sua condição de
suburbana carioca, para cair na boêmia e na vida cultural de Copacabana, ainda que esta vida agitada
tenha lhe tirado a vida em 1959. Mas, valeu enquanto durou e o que nos deixou, é
luxo só.
Acompanhada do violão de Lucas Porto e o bandolim de Luis
Barcelos, a delicada Nina nos
traz a brejeirice, o humor, a fossa, as dores de amores de Dolores que revela em suas canções certo desencanto e amargor, mas que
contrasta com a mulher bem resolvida, engraçada, piadista e usuária de muitos
palavrões entre os seus amigos nas mesas dos bares. Nina esbanja elegância e beleza em Manias, Estatuto de boate, Carioca 1954, Coisas de Mulher, O amor
acontece e mais. De ouvir sem parar nestes tempos de baixo astral e
desesperança.
Foto: Nina Becker
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