Os desconfortos oriundos dos distúrbios da
fala, como a gagueira, se manifestam sempre que o gago se encontra sob pressão,
qualquer que seja. Já fui gago e sei. Na sabatina da tabuada, perfilado com
outros colegas em frente à professora, era tomado por um pavor incontrolável,
principalmente se a coluna dos noves da multiplicação era a escolhida para
testar os nossos conhecimentos aritiméticos.
Ouvir o pedido de resultado para 9 x 7, 9 x 8, 9 x 6, era travar o
sistema que iria me fazer calcular mentalmente o produto e exprimir este
resultado, como forma de me livrar da palmatória, era praticamente impossível.
As mandíbulas tremiam, os lábios descontrolados não conseguiam emitir qualquer
palavra, qualquer sinal de acerto, em que pese o esforço sobre-humano para que
fosse expresso algum som, alguma palavra.
Só quem já passou pelo sufoco sabe o que é se
apresentar nas festas de finais de ano, declamando ou cantando, sozinho ou em
grupo; entoar solos de Maria Concebida
no dia dedicado a Escola Almirante
Barroso, por ocasião do Mês de Maria. Estas e outras situações fazem o
gago babar de medo e sentir vontade de sair correndo do recinto ao sentir a
possibilidade de ser posto frente a frente aos seus pares, seus professores.
Mas a minha gagueira como começou desapareceu,
sem que um fato justificasse a cura, sem tratamentos especiais como o do Rei George VI com o seu fiel e paciente
Professor Lionel, razão destas
lembranças e, que são decorrentes de um filme extraordinário, “O Discurso do Rei”.
Foto: Ilustrativa
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