terça-feira, 21 de julho de 2015

Matança

Não sou o que se pode chamar de vegetariano, embora procure sempre ter os vegetais em meu prato, desde que decidi abolir, por decisão própria, o consumo de carne vermelha, já atendendo algumas orientações do nutricionista quanto aquilo que deveria consumir e evitar. 

A rejeição à carne vermelha, ainda que tardiamente, talvez remonte as nossas aulas de educação física no Ginásio de Piritiba. Nestas oportunidades, precisamente as quintas feiras, subíamos o São Domingos mais cedo que o início da aula, para passarmos no curral da matança e assistirmos (não há outro termo) um espetáculo assustador.

O animal era amarrado pelo pescoço ao mourão, pés e mãos atados na relação pé esquerdo com a mão esquerda e a mesma combinação com os membros destros, conforme a escolha do magarefe. O sacrifício era iniciado com uma sessão de pauladas (nem sempre certeiras) na região entre o pescoço e a cabeça do animal, acompanhados de berros lancinantes do boi. Quando a bordoada atingia o ponto vital de equilíbrio do animal, ele caia quase desfalecido e estrebuchando, oferecendo as condições ideais para o golpe final e fatal.

O magarefe então se aproximava da vítima, portando uma peixeira de “paraibano” e sangrava o animal já caído e semimorto. A enorme quantidade de sangue que jorrava do pescoço do boi era aparada em uma bacia ou várias, para depois as fateiras transformarem aquela sangria em ingredientes para o sarapatel e até em doce.

Tanto tempo depois, estas imagens permanecem em minha memória com uma clareza que às vezes me assusta. É o exemplo de uma crueldade que cada um de nós, como animais e homens, infelizmente somos capazes. Embora tardiamente, é verdade, mas carne vermelha, nunca mais. E assim vou tocando a marcha. 

Foto: Ilustrativa

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