Poemas sacanas, quadras escatológicas, elegias
mais ou menos trágicas e uma profusão de sonetos picantes: a literatura
brasileira pode agora contar com uma “pornografia organizada”. É a Antologia de Poesia Erótica Brasileira
lançada pela Ateliê Editorial, com a
organização da professora da USP Eliane
Robert Moraes.
São 235 poemas de pelo menos 125 autores
publicados originalmente desde a segunda metade do século 17 – Gregório de Matos é o ponto cronológico
inicial da antologia, que reúne nomes como Gonçalves
Dias, Mário de Andrade, Jaão Cabral de Melo Neto além de poetas anônimos.
“A
pica ressuscita mulher morta”
Francisco Moniz Barreto
(1804-1868)
A pica o instrumento é que no mundo
Mais milagres tem feito e mais proezas;
A pica o melhor traste e das belezas,
Mal que começa a lhes coçar o sundo.
A pica é o cão, que avança furibundo
A plebeias, fidalgas, e princesas;
A pica em chamas Troia pôs acesas,
E a Dido fez descer do Urco ao fundo.
É a pica – carnal, possante espada,
Que o mundo, perfurante, emenda, entorta,
E tudo vence, como bem lhe agrada.
A pica, ora é calmante, ora conforta;
Sendo em dose alopática aplicada,
A pica ressuscita a mulher morta.
Fonte: Estadão
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